ORATÓRIO –[Do latim oratoriu] Bluteau define como “espécie de capela pequena, em que com licença do Pontífice ou do Prelado se pode dizer missa”i. Refere o autor ainda que “o vocábulo foi introduzido desde a Igreja primitiva”. Separando-se da capela, o oratório tem um carácter privado localizando-se no interior de um edifício sem porta para a rua. O rei D. Duarte I no seu Leal Concelheiro, ao descrever o interior de um paço coloca o oratório no final da sequência dos espaços de “salla, antecâmara, câmara de dormir, e guarda-roupa” como um compartimento pequeno e reservado. Traduzindo um hábito de polifuncionalidade, inerente às vivências dos interiores medievais, D. Duarte faz, uma interessante, menção ao oratório dedicando-o, não só à oração, como á leitura e reflexão. Nesta linha de polifuncionalidade medieval, um documento do século XV, descrevendo o Paço Real de Sintra, menciona “A casynha de rezar que tem o mijatorio” e ainda a “a casa de rezar onde antes estaua a priuada”ii.
Durante a época moderna o oratório mantém a sua presença no interior da casa senhorial sendo lugar privilegiado de cerimónias de casamentos e baptizados, como vemos frequentemente referido nos cartórios notariais. A sua relação com estas cerimónias tende a dignificar este espaço sob um ponto de vista arquitectónico e decorativo, localizando-se no interior da casa, perto da sala ou “sala vaga” permitindo, assim uma maior assistência dos convidados.
Referências documentais
1438 - Quinta, oratório, em que os senhores soos alguas vezes cada dia he bem de sse apartarem pêra rezar, leer per boos livros, e pensar virtuosos cuidados”Descrição de d. Duarte I de um interior de um paço iii.
1673 - “e… no fim da mesma baranda antes da porta do oratorio está huma baranda cuberta e azolegada athe o meio pera sima toda enbrexada”Inventário de partilhas do Palácio dos Marqueses de Fronteira, em Benficaiv.
1699 – “… huma propriedade de cazas nobres cittas nesta cidade, nas portas de da Cruz místicas sobre as quais tem aposentos e constão de varias lojas de entrada, cavalharice, cocheira e palheirros, casas de mossos com entrada de duas portas ( …) e ao altos dellas constão no primeiro andar de huma sala de entrada e duas cazas pera huma banda (…) e para a outra parte há quatro cazas e dois gabinetes e no alto destascazas há des varias com dous gabinetes e alguns trânsitos de humas e outras e sobre estas ficão outras casas de criadas e despejos e (…) e sobre elas fica hum transito e casa de oratório e por cima huma casa com hum eirado descoberto e tem o chão de hum jardim. Descrição do palácio de Luís Correia da Paz , mais atrde, conhecido pelo Palácio dos Teles de Melo, na calçada do Cascão v
1734 - “sala vaga, hum gavinete, outro gavinete, duas casas grandes e principais, outra sala, outra casa a facia da rua, Outra casa, Saleta de dona para a sala principal, outra sala, junto a esta caza de oratório, Outra salla, Hum camarim, Outra caza com duas janellas” Certidão de obras efectuadas no Palácio de Xabregas. vi.
1794 - “Plano Nobre - Sala de espera, antecâmara, sala de visitas, gabinete, toucador, oratório ou tribuna para a ermida, caza de jantar, câmara, guarda roupa com chaminé, caza de lavor, despejos” Descrição de um programa interior de uma Casa de nobre in Jornadas do Tejo vii.
Hélder Carita (2014)
i BLUTEAU, Rafael, Vocabulário Portuguez e Latino…, Coimbra, Colégio das Artes da Companhia de Jesus, 1712, vol.VI, p.99.
ii CONDE de Sabugosa - O Paço de Sintra, Lisboa, Imprensa Nacional, 1903, Apêndice documental, doc.1, ( BN- Mss.Cod. L, 6,45).
iii D. DUARTE - Leal Conselheiro, (ed. crítica e anotada por J. M. Piel), Lisboa, Lvrª Bertrand, 1942, p.303, (sublinhado nosso).
iv In Mesquita, Marieta Da - História e arquitectura uma proposta de investigação []]: o Palácio dos Marqueses de Fronteira como situação exemplar da arquitectura residencial erudita em Portugal, Lisboa, 1992, 3 vols. Tese de Doutoramento da Faculdade de Arquitectura, (Texto policopiado), Anexos, Documento I. p.40