Nota
Correspondendo a uma proposta para o Palácio Real a construir em Campo de Ourique o desenho de enormes proporções, quase quatro metros, e com um requintadíssimo acabamento sugere uma função de apresentado no corte e a uma larga plateia.
Enquanto o alçado não assinado, denota uma opção que, embora mais sumptuosa e de grande impacte visual, acaba por se revelar mais convencional e monótona. o seu carácter majestoso e maciço resulta da opção de dois andares nobres sobrepostos, bem como da volumetria compacta e quadrangular dos torreões. Rematados por largo frontão triangular, os torreões são coroados de cúpulas contracurvadas que aqui aparecem revestidas de ardósia em escama, numa solução, mais uma vez, de inspiração francesa. Ao centro, o torreão de entrada divide-se numa sequência de cinco vãos, fazendo contraponto com os torreões laterais que, mais pequenos, se dividem por quatro vãos, numa sequência binária pouco comum na tradística que, desde Sérlio e Vignolla, prescrevia o uso de sequências de vãos em número impar, ficando uma janela ao centro a marcar o eixo de composição. Pouco comum é ainda a solução de grandes janelas geminadas rematadas por salientes frontões, nos três torreões, que acentuam a escala de toda a fachada.
O conjunto adquire uma certa dinâmica e leveza rítmica pelo tratamento dos dois corpos intermédios, de ligação com os torreões, cujos paramentos, ao desdobrarem-se num jogo de colunas e pilastras geminadas, em alternância com as janelas e portais do piso térreo, criam um jogo de luz e sombra que anima o longo alçado. O apurado desenho do detalhe arquitectónico acaba, no entanto, por força da repetição exaustiva dos seus elementos, por manifestar uma certa monotonia na composição. A par do jogo de sombras, também toda a ornamentação imprime movimento rítmico à fachada, desdobrando-se numa frente de estátuas, pontuada por fogaréus, florões, baixos-relevos inscritos em cartelas e frontões. Embora sumptuoso, o conjunto do alçado permanece pesado, aproximando-se mais dos esquemas do classicismo francês presentes em Versalhes, com Mansart, sem a graciosidade e a elegância das correntes do rocaille divulgadas por Briseux ou J.F. Blondel e que aqui não chegam a inscrever-se na composição geral e no espírito das formas arquitectónicas.
Bibliografia
Carita, Helder; “Dois Alçados Inéditos do Palácio Real de Campo de Ourique”, in Revista de História da Arte. Lisboa, Nº. – 11, pp. 185-207. ISSN - 1646-1762