Nota
A planta e alçado do Paço de Salvaterra de Magos guardados na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro apresentam a assinatura de Carlos Mardel permitindo-nos confirmar a participação deste arquitecto no processo de beneficiações deste paço desenvolvido no durante o reinado de D. José I. que incluiu a emblemática construção de uma Casa de Ópera.
Carlos Mardel tinha sido nomeado, em 1747, arquitecto dos Paços Reais estando este projecto dentro das funções oficiais deste cargo. Com a denominação Real Teatro de Salvaterra, esta casa de ópera foi inaugurada a 21 de Janeiro de 1753 com a ópera "Didone Abandonata seguindo-se várias representações sobretudo no inverno quando a Família Real permanecia em Salvaterra de Magos.
Dado que do antigo edifício só nos chegou a Capela Real e as instalações da Falcoaria estes dois desenhos adquirem particular significado para o conhecimento do programa distributivo do palácio como das suas respectivas opções estéticas e arquitectónicas. Neste aspecto tanto a planta como o alçado indiciam, sobretudo no corpo central, um programa claramente maneirista com uma forte preponderância de varandas de colunas que vemos desenvolverem-se nas quatro fachadas. De sentido maneirista é ainda o uso da ordem jónica que vemos surgir no piso nobre, em contraponto com o uso da ordem toscana no piso térreo.
Na sua génese o paço foi mandado construir pelo infante D. Luis, filho de D. Manuel, restando deste período ainda a capela do Paço, uma das obras primas do nosso Renascimento.
Carvalho e Costa na sua Chorografia Portugueza, refere que “o palácio, que fundou D. Luis, acrescentou de novo com mais casas e jardins El-rey D. Pedro II”, ( vol. III, p.271) Por esta referência podemos explicar a estética clássica mas de vertente maneirista que se observa tanto no alçado como na planta do piso nobre com torreões ligados por varandas, com claras afinidades ao palácio dos Marqueses de Fronteira
A 10 de Setembro de 1849, a rainha D. Maria II, autoriza a cedência ao Estado de todos prédios dependentes do Almoxarifado de Salvaterra de Magos, e desta forma grande parte do Paço foi vendido em hasta pública com excepção da Capela Real que o Estado conservou.
Bibliografia
CORREIA , Natália Brito; GUEDES, Joaquim Manuel, O Paço Real de Salvaterra de Magos - a Corte, a Ópera, a Falcoaria, Lisboa, Livros Horizonte, 1989.
Costa, António Carvalho e, Chorographia Portugueza, Lisboa, Officina Valentim da Costa Deslandes, III vol., 1712, p.271.