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    Casa de Campo do Conde da Barca

    Casa de Campo do Conde da Barca
    Brasil
    XIX

    Thomas Ender  (1793 –1875)

    “Eingang des Landhauses do Conte da Barca” 1817/18, lápis e aquarela sobre papel. 19,5x30,8 cm. 

    Graphic Collection of the Academy of Fine Arts Vienna 

     

     

    Explicação

    Thomas Ender foi um pintor austríaco  que chegou ao Brasil em 14 de julho de 1817, como pintor de paisagem da comitiva da princesa D. Maria Leopoldina, arquiduquesa da Áustria, que desposaria o príncipe herdeiro D. Pedro.

    A obra intitulada “Entrada da casa de campo do Conde da Barca” faz parte de um conjunto de sete aquarelas pintadas por Ender na chácara do Engenho Velho (Rio de Janeiro) que foi ocupada  entre 1815 e 1817 por Antônio Araújo Azevedo, Conde da Barca.

    Essas aquarelas fornecem o único testemunho visual da chácara, demonstrando a singularidade da colina e seu poder de evocar os sentimentos de pitoresco e sublime com que os europeus observavam a natureza.

    Em suas aquarelas luminosas, Ender busca captar suas extasiantes experiências. Com o recurso de variados matizes de verde e amarelo, ele representa a vegetação exuberante com que enquadra os diferentes aspectos da chácara: amplos e vertiginosos panoramas, com montanhas ao fundo; arejados espaços que cercam a entrada e fundos da casa principal, e um único interior, a varanda.

    Na aquarela aqui apresentada, Ender reproduz a entrada principal da casa, voltada para a rua do Matoso. Subindo duas escadas de cantaria, chegava-se a um pátio ladrilhado com tijolos, onde havia três sofás, também de alvenaria. Do lado esquerdo da casa, havia um jardim e uma cisterna com caramanchão de madeira. Vários alegretes delimitavam as diferentes áreas do pátio de entrada, assim como a ampla varanda da casa. As aquarelas mostram vegetação característica da região, que ainda hoje pode ser encontrada no local.

     

    Pormenores

     

     

    Nota

    A localização da chácara  foi por muito tempo incerta, e dos vários estudos a esse respeito destacam-se os de Darcy Damasceno que apontavam para a colina do Matoso, de propriedade dos marqueses de Lages. O confronto das aquarelas de Ender com a descrição da propriedade no inventário da marquesa de Lajes não deixa dúvidas sobre o local. A casa da marquesa de Lages, Isabel Leonor da Mota Leite e Araújo (1812 – 1859), ficava no alto da Colina do Matoso e seus domínios se estendiam até as atuais ruas Mariz e Barros, do Matoso e Haddock Lobo. A Marquesa pertencia a uma tradicional família do Engenho Velho, onde havia nascido, se casara e batizara seu filho no antigo oratório da família.  Apesar dos muitos anos decorridos até a morte da Marquesa, a casa desenhada por Ender ainda é plenamente reconhecível na descrição do inventário. 

    A casa principal tinha 109 palmos de frente por 130 palmos de fundo, com colunas, pilares e frontais de tijolo. Esta técnica era usual na cidade durante o século XVIII, sendo substituída pela pedra e cal nas obras urbanas já no início do século XIX, e persistindo por mais tempo nas construções suburbanas e rurais. A fachada tinha sete portas e duas janelas de peitoril, “com uma varanda reentrante ladrilhada de tijolo de Hamburgo; tendo cinco colunas com três escadas de cantaria que dão entrada para a mesma”. 

    A descrição do inventário nos fornece a única visão do interior da casa: “com sala, dita de jantar, dita de costura, quatro gabinetes e cinco quartos tudo forrado e assoalhado tendo um sótão com cinco janelas em cada uma das frentes com portaes de madeira dividido com sala e seis quartos tudo forrado”. O sótão não é perceptível nos desenhos de Ender, e é possível que seja um acréscimo posterior. A cozinha e a despensa ficavam em construção anexa, no fundo da casa. Embora fosse uma casa inicialmente situada em área rural, esta tinha tamanho e divisão semelhante às das melhores residências do centro urbano da cidade.

    Localização da chácara, com a visada da aquarela de Thomas Ender

     

     

    Cronologia

    Antes de 1812 - Chácara pertencia a Luiz de Abreu Froes.

    6 de maio de 1815 - O Conde da Barca compra as benfeitorias feitas na chácara do Engenho Novo por Gustavo Kieckhoefer, e o sucede no arrendamento da propriedade.

    21 de junho de 1817 - Morre o Conde da Barca na casa do Engenho Velho. Pouco depois a a propriedade seria arrendada ao cônsul da Prússia, o Conde de Flemming. 

    14 de julho de 1817 - Thomas Ender (1793 –1875) chega ao Brasil, como pintor da comitiva austríaca que acompanhou a Princesa Leopoldina.

    1º. de junho de 1818 - Thomas Ender retorna à Europa.

    1859 - Morre Isabel Leonor da Mota Leite e Araújo, a Marquesa de Lages.

    1872 - A propriedade foi adquirida pela Sociedade Francesa de Beneficência para que irmãs vicentinas lá instalassem o Instituto S. Vicente de Paula.

    1930 - Passa a funcionar no local o Hospital São Vicente de Paula.

     

    Bibliografia

    DAMASCENO, Darcy. “Estudos sobre a localização da casa do Conde da Barca no Rio de Janeiro: notas várias”. Rio de Janeiro. [s.d.], 36 f.

    FERREZ, Gilberto. O velho Rio de Janeiro através das gravuras de Thomas Ender. São Paulo : Melhoramentos, 1956.

    FERREZ, Gilberto. O Brasil de Thomas Ender 1817. Rio de Janeiro : Fundação Moreira Salles, 1976.

    PESSOA, Ana, SANTOS, Ana Lucia. Moradas de Engenho e Arte: As casas do Conde da Barca no Novo Mundo. Revista IHGB, n. 475, 253- 280, set/dez. 2017. Disponível em https://www.ihgb.org.br/revista-eletronica/artigos-475/item/108598-moradas-de-engenho-e-arte-as-casas-do-conde-da-barca-no-novo-mundo.html

    WAGNER, Robert et BANDEIRA, Júlio. Viagem ao Brasil Nas Aquarelas de Thomas Ender 1817/1818. Petrópolis : Kapa Editorial, 2000.

    Fontes manuscritas 

    Fundação Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro - FBNRJ

    Seção de Manuscritos 

    II, 35,5,5. Autos de incorporação nos próprios nacionais das casas do falecido conde da Barca, situadas na rua do Passeio.

    Arquivo Nacional do Rio de Janeiro - ANRJ

    Fundo CODES  - Inventário Post Mortem - Marquesa de Lajes - 3ª vara do Juízo Municipal, ZW, no 773, Caixa  2762,1861.

    Cartografia - 4M/MAP 118 – Mapa da cidade do Rio de Janeiro, circa 1870.

     

     

    Observações

    Coordenação: Ana Pessoa (FCRB), 2021

    Pesquisa e edição imagem e texto: Ana Lucia Vieira dos Santos (EAU/UFF) e Ana Pessoa (FCRB)

    Fonte:Graphic Collection of the Academy of Fine Arts Vienna 

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    PTCD/EAT-HAT/11229/2009

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