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    Fazenda Bela Aliança

    Fazenda Bela Aliança
    Brasil
    XIX

    Enquadramento urbano e paisagístico

    Localizada entre as zonas urbanas de Pinheiral e Piraí, no estado do Rio de Janeiro, a Fazenda Bela Aliança situa-se em uma área verde cercada por morros desmatados pelo cultivo cafeeiro. Seu acesso se dá por uma estrada de chão batido, a cerca de onze quilômetros da rodovia RJ-141. A propriedade é composta atualmente pela antiga casa-sede e remanescentes do período cafeeiro, como o paiol e o antigo terreiro, além de edificações de apoio como casa do caseiro (também em um antigo sobrado), depósito e garagem.

    Morfologia e composição

    Situada próximo a um desnível no terreno, a casa-sede assenta sua entrada, através de uma destacada escadaria, em um platô que possibilita o acesso direto ao pavimento superior. O pavimento inferior abriga um porão habitável que se estende por toda a lateral esquerda da edificação. Ao longo da lateral esquerda, estende-se uma marcante varanda com beiral sustentado por pilastras. No nível superior, os cômodos são dispostos no entorno de um pátio interno, formando um vazio no centro da edificação.

    Fachada principal

    Destacam-se na casa-sede da fazenda os elementos presentes nas fachadas, em especial na fachada principal e na fachada lateral esquerda.

    A fachada principal é marcada pela escadaria em leque que marca o acesso e distribui de forma simétrica os nove vãos do pavimento superior, sendo uma porta e oito janelas. As aberturas do pavimento superior remetem à características neogóticas devido às vergas em arco ogival que as compõem. Apresentam bandeira fixa com caixilharia de vidro trabalhada em ogivas e folhas cegas de madeira para vedação externa. Destaca-se entre elas a janela da capela, na extremidade direita da fachada, cuja caixilharia em vidrais coloridos bascula para fora. A porta de entrada é em madeira almofadada, sendo ladeada por pilastras em alto-relevo embutidas à fachada. A escadaria possui guarda-corpo em ferro arrematado por corrimãos em madeira, possuindo pequenas colunas em pedra junto ao primeiro degrau.

    O beiral é arrematado por cimalha em estuque com frisos horizontais, florões e folhagens. Destacam-se também os cunhais em estuque, com motivos florais que compõem diferentes desenhos.

    As esquadrias do pavimento inferior são em verga reta e circundadas por cantaria, também com bandeira fixa com caixilharia e vidro e folhas cegas de madeira.

    Fachadas secundárias

    A fachada lateral esquerda, no pavimento superior, mantém a mesma riqueza de detalhes da fachada principal, com estuques nos cunhais e cimalha. É composta por quatorze vãos distribuídos ao longo de uma varanda que percorre toda sua extensão. São duas portas e doze janelas também em arco ogival, caixilharia em vidro e folhas em madeira. A varanda, que não pertence à construção original, é fruto de intervenção feita no final do século XIX, sendo as duas portas abertas a partir de janelas para possibilitar o seu acesso pela casa. No pavimento inferior da fachada lateral esquerda, que dá acesso ao porão, as esquadrias também são em verga reta arrematadas por cantaria. Os cunhais do pavimento inferior também são em cantaria, tal como na fachada principal.

    As demais fachadas, todas térreas, possuem janelas em verga reta e ausência de ornamentos.

    Programa interior

    Programa geral, tipologia e planta

    A casa organiza-se em torno do pátio interno, sendo sua conformação original, segundo indícios locais, em formato de “U”. Atualmente além dos cômodos que se distribuem no entorno do centro vazado, há uma ampliação nos fundos da ala direita, que acomoda os cômodos de serviço. O pavimento inferior, que abriga um porão habitável, é semi-enterrado, possuindo aberturas somente nas fachadas frontal e lateral esquerda.

    Piso 0

    O pavimento térreo é composto por salões interligados que se abrem para a fachada lateral esquerda. Junto à fachada principal há um quarto e pequeno depósito. No salão central, de maior dimensão, situa-se a escada que dá acesso ao pavimento superior pelo interior da casa. 

    Piso 1

    O acesso principal do pavimento superior se abre para um grande salão que serve de “nave” à capela, localizada na extremidade direita. O salão também dá acesso a dois quartos, a um escritório e à sala de visitas localizada à esquerda, bem como à circulação que conduz à sala de estar e ao pavimento inferior.

    A sala de estar, localizada na ala esquerda em posição central, é ladeada por quartos que a ela ligam-se diretamente, bem como um corredor que conduz à ala direita, onde localiza-se a sala de jantar. Aos fundos da ala direita, situa-se o bloco de serviços.

    Jardim

    O acesso à casa é marcado por uma aleia de palmeiras imperiais, possuindo no entorno grande quantidade de árvores nativas. A casa-sede é cercada por gradil em ferro com pilastras encimadas por vasos. A atual piscina situa-se no local de uma antiga fonte, para a qual é voltada a fachada avarandada da lateral esquerda. No entorno imediato, o jardim é  completado extenso gramado com arbustos e flores.

    O pátio interno possui desenho simétrico, sendo gramado e formado por dois pequenos lagos cortados por um passeio que liga as alas esquerda à direita da casa. Sobre a água pousam plantas exóticas, como o lótus-da-índia.

     

    Bibliografia

    INEPAC. Inventário das Fazendas do Vale do Paraíba Fluminense. Rio de Janeiro: Instituto Cultural Cidade Viva: 2010.

    PINHO, José Wanderley de Araujo. Os Haritoff. InSalões e damas do segundo reinado. São Paulo: GRD, 2004, p. 177–191.

    PIRES, Tasso Fragoso. (Org.). Fazendas do Império. Rio de Janeiro: Edições Fadel, 2010.

     

     

    Cronologia e proprietários

    1781 – Sesmaria concedida a Antônio Gonçalves de Moraes, pai do barão de Piraí;

    1855 c. – Silvino José da Costa declara ter recebido como dote da esposa Ana Clara Breves Moraes da Costa, filha dos barões de Piraí, meia légua da sesmaria e ter adquirido o restante das terras, declarando-se proprietário da Fazenda Bela Aliança;

    1864 – Após o falecimento de Silvino, a fazenda fica para sua viúva e filhos;

    1876c. – Com o falecimento Ana Clara Breves Moraes da Costa, filha do barão de Piraí, a fazenda é partilhada entre os filhos;

    1880 – O casal Ana Clara e Maurice Haritoff compra a parte dos herdeiros da fazenda, fazendo da casa-sede uma extensão do seu estilo de vida em Paris e da casa na corte;

    1889 – Com a decadência cafeeira, a fazenda é hipotecada pelo casal Haritoff ao Banco do Brasil;

    1909 – A hipoteca da fazenda é executada e vendida no ano seguinte a Jaguanharo da Rocha Miranda, passando posteriormente por diversos proprietários;

    1959 – Adquirida por Manoel de Azevedo Leão, cujos herdeiros restauraram a casa-sede e são atualmente os proprietários. 

     

    Comendador Silvino José da Costa

    Casado com Ana Clara Breves Moraes da Costa, filha dos barões de Piraí, construiu a casa-sede da Fazenda Bela Aliança, onde se estabeleceu e criou seus oito filhos. Nascido no Rio de Janeiro em 1792, Silvino era um pequeno agricultor, tendo adquirido prestígio como vereador e presidente da Câmara de Piraí entre 1846 e 1848. Morre aos 72 anos de idade, em 1864. Além da Fazenda Bela Aliança, que possuía na época de sua morte cerca de duzentos escravizados e 120 mil pés de café, possuía também as fazendas Bella Vista, Botafogo, além de outros sítios, totalizando mais de um milhão de pés de café e cerca de oitocentos escravizados.

     

     

    Ana Clara Moraes da Costa Haritoff (Nicota; Condessa de Haritoff)

    Filha do Comendador Silvino José da Costa e Ana Clara Breves Moraes da Costa, neta portanto dos barões de Piraí, Ana Clara nasce no ano de 1850. Em 1867 casa-se, aos 17 anos, três anos após o falecimento do pai, com o russo Maurice Haritoff. O casal, que havia se conhecido nos salões da Fazenda do Pinheiro, propriedade de seu tio José de Souza Breves, casou-se na capela da Fazenda Bela Aliança e foi viver em Paris. Retornando ao Brasil, passam a residir em Laranjeiras, passando a residir na fazenda por volta de 1880. Ana Haritoff falece em março de 1894, aos 44 anos.

     

     

    Maurice Haritoff (Conde de Haritoff)

    Nascido em 1842 e pertencente a uma opulenta família de proprietários rurais russos, Maurice Haritoff visita o Brasil em 1866, onde conhece Ana Clara Moraes da Costa (Nicota) no Vale do Paraíba Fluminense, casando-se com ela no ano seguinte. Após o casamento, muda-se com Ana Clara para Paris, onde mantinham residência nos Campos Elíseos. Em 1877 serve à Rússia na guerra russo-turca. Por volta de 1880 o casal retorna ao Brasil, instalando-se em uma suntuosa casa em Laranjeiras e posteriormente mudando-se para a Bela Aliança. Já viúvo, passa a viver com Regina, ex-escravizada da fazenda, com quem teve os filhos Boris e Alexis. Após a execução da hipoteca da fazenda em 1909, Maurice passa a residir em uma chácara na Barra do Piraí. Falece em 1919 no Rio de Janeiro, em uma pequena casa onde residia à Rua General Severiano.

    Documentação

    Pregão de venda e arrematação da Fazenda Bella Alliança. Jornal do Commercio, 29 ago. 1909.

     

     

    Observações

    Coordenação: Ana Pessoa

    Edição de textos e imagens: Francesca Martinelli (PCTCC/FCRB)

    Créditos das fotos: INEPAC e Acervo da Fazenda Bela Aliança

     

     

     

     

     

     

     

     

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    PTCD/EAT-HAT/11229/2009

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