Embora com um aumento de um piso que alterou o seu prospecto inicial, o Palácio Rebelo de Andrade apresenta-se como uma interessante exemplo de palácio tardo-barroco construído em plena época pombalina. Com um andar nobre, marcado por uma sequência de janelas de sacada com molduras com delicados frontões curvos, o palácio Rebelo de Andrade configura uma certa oposição ao racionalismo e despojamento da arquitectura pombalina. Quantos aos interiores, as salas do piso nobre apresentam uma interessante colecção de azulejaria azul e branco de estilo Rococó de grande qualidade pictórica atribuível à oficina de Valentim de Almeida.
Inserido na malha da cidade, no interior dum quarteirão. Situa-se na esquina entre a rua da Escola Politécnica e a rua do Arco de São Mamede. A fachada do palácio deita para a rua da Escola Politécnica e o alçado posterior volta-se a Sudoeste. Pertence à freguesia de São Mamede e está implantado num terreno em declive, descendente de Nordeste para Sudoeste.
A morfologia do edifício assenta na composição de um prisma regular em “U”. A totalidade do edifício apresenta hoje cinco pisos, fruto de obras de ampliação feitas na cobertura de duas e quatro águas, com janelas trapeiras. O andar nobre situa-se no piso 1 e o acesso a este faz-se pelo vestíbulo localizado a eixo do edifício. A circulação interior organiza-se por um corredor central que comunica com as extremidades do palácio onde se localizam escadas de serviço e com a escada de aparato ao centro de dois lanços simétricos e curvilíneos. Actualmente tem ainda uma escada acrescentada ao alçado posterior que comunica o andar nobre com os pisos superiores (2 e 3).
Frontaria voltada a Este para a rua da Escola Politécnica, composta por três panos dispostos simetricamente, sendo o central muito estreito, divididos e delimitados por pilastras almofadadas, e na esquina nordeste por cunhal de aparelho regular. Possui três pisos separados por frisos.
Inferiormente corre um embasamento alto que acompanha o declive suave da rua, descendente para Norte.
A toda a largura do pano central rasga-se o portal principal entre pilastras perifericamente almofadas de perfil côncavo, que apoiam um arco rebaixado com grande chave de volutas vegetalistas. Esta é ladeada por mísulas semelhantes, onde se apoia o varandim da janela de sacada do 1º piso, em arco rebaixado, encimada por frontão curvilíneo interrompido. No 2º piso uma janela rectangular de avental rectilíneo.
Nos extremos dos panos laterais abre-se uma porta em arco contracurvado interrompido por segmento recto, a da direita antecedida por dois degraus, seguindo-se três janelas rectangulares com molduras laterais prolongadas até ao chão, e, de cada lado do portal, uma janela de moldura de cantos superiormente chanfrados em curva.
No 1º piso de cada pano, cinco janelas de sacada em arco de cortina encimado por espelho com decoração geométrica e sob cornija do mesmo perfil, com varandins de ferro forjado ao nível do friso separador e sobre mísulas tronco-piramidais invertidas.
No 2º piso cinco janelas com molduras rectangulares, de avental rectilíneo.
Remate em cornija sob platibanda apainelada, saliente no corpo central.
Fachada sul adossada a edifício.
Fachada lateral norte, voltada à rua do Arco de S. Mamede, com intenso declive para Oeste, fazendo aumentar a altura do embasamento de Este para Oeste, atingindo nesse extremo o nível do 2º piso.
É composta por um corpo de pano único de cinco pisos, a que se adossa outro menor, em extensão e altura, separado por pilastra de aparelho regular que se transforma superiormente em cunhal do 1º corpo.
No corpo principal, o piso 0 é marcado nos extremos por duas janelas rectangulares gradeadas a ladear três portas largas em arco rebaixado. No 1º piso abrem-se sete janelas de moldura rectangular que têm no seu eixo, no 2º piso, sete janelas de sacada rectangulares, com varandins idênticos aos da frontaria, encimadas por cornijas diminutas em cortina. No 3º piso quatro óculos elípticos encimados por cornijas diminutas contracurvadas, no eixo das primeiras quatro janelas do piso de baixo. No 4º piso, sete janelas de moldura rectangular.
Remate em cornija sob beiral.
Corpo da direita com dois pisos. No piso térreo uma porta em arco rebaixado e outra porta mais pequena rectangular e no 1º piso uma janela de sacada em arco rebaixado.
Remate em platibanda.
Fachada oeste parcialmente adossada ao corpo que se liga à fachada norte.
ARAÚJO, Norberto de – Peregrinações em Lisboa, livro XI, Lisboa, 1993.
ALMEIDA, D. Fernando de, (coord.) – Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa, Lisboa, tomo II, Lisboa, 1975.
FRANÇA, José-Augusto – Lisboa Pombalina e o Iluminismo, Lisboa, s.d.
GONÇALVES, Julieta da Cunha – “Palácio Ceia-Bramão”, in Dicionário da História de Lisboa (dir. de Francisco Santana e Eduardo Sucena), Lisboa, Carlos Quintas e Associados, 1994, pp. 247, 248.
MATOS, José Sarmento - "Palácio Rebelo de Andrade - Seia", in Sétima Colina, (dir. José Augusto frança), Lisboa, Livros Horiozonte, 1994, pp. 120 -121.
VALE, Teresa e GOMES, Carlos – Palácio Bramão / Palácio Ceia / Palácio Rebelo de Andrade / Universidade Aberta; ficha IPA.0003176, IHRU, 1994: http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=3176
Século XVIII
1760 – construção do palácio, a São Mamede, com fachada principal para a rua Direita da Fábrica das Sedas, por António Rebelo de Andrade, rico comerciante lisboeta, em terrenos da Quinta dos Soares, aforados a D. Rodrigo de Noronha.
Século XIX
1805 – o edifício foi vendido pela família Rebelo de Andrade.
1840 – obras de ampliação promovidas pelo proprietário, D. António Manuel de Meneses, 1º conde de Ceia, que o herdou do seu sogro, comerciante no Rio de Janeiro. Foi então construído o 2º andar do edifício.
Século XX
1904 – o palácio pertencia a D. Vasco Sequeira Bramão.
1977 – o palácio passou para a posse da Imprensa Nacional - Casa da Moeda.
1983 – aquisição pelo Instituto Português de Ensino à Distância, para instalação da Universidade Aberta.
Piso 0
O piso 0 situa-se em contacto directo com a rua da Escola Politécnica. Grande parte das suas divisões são ortogonais e intercomunicantes. A circulação faz-se ainda por um corredor central em “U”, cruzando a comunicação entre o vestíbulo e a escada de aparato. Nas extremidades deste corredor situam-se escadas de comunicação com os restantes pisos: a Este com o piso -1 e a Noroeste com todos os pisos do palácio.
Piso Nobre (1)
O andar nobre mantém a organização do piso inferior, com o corredor de distribuição central em “U”. O acesso a este piso faz-se pela escada de aparato de dois lanços simétricos de desenho semicircular e pela escada de serviço situada a Noroeste, na extremidade esquerda do palácio. Nesta zona o edifício tem ainda uma pequena escada de um só lanço para acesso ao piso superior (1). Na extremidade direita situa-se igualmente uma pequena escada de um só lanço para aceder a uma pequena tribuna da capela. Actualmente, este piso possui ainda uma escada de três lanços por piso que une o andar nobre aos pisos superiores (2 e 3). As divisões são ortogonais e intercomunicantes.
Piso 1, divisão 1
Lambril de azulejos policromados da 2ª metade do século XVIII. Painéis ornamentados com uma moldura em trompe l’oeil, marmoreados, florões e concheados.
Piso 1, divisão 3
Lambril de azulejos figurativos em azul e branco da 2ª metade do século XVIII. Painéis com cenas de jogos em interiores, delimitados por uma cercadura com concheados, flores e marmoreados. Rodapé com azulejos marmoreados.
Piso 1, divisão 4
Lambril de azulejos figurativos em azul e branco da 2ª metade do século XVIII. Painéis com cenas galantes, delimitados por uma cercadura com concheados, flores e marmoreados. Rodapé com azulejos marmoreados.
Piso 1, divisão 5
Lambril de azulejos figurativos em azul e branco da 2ª metade do século XVIII. Painéis com cenas de chinoiserie, delimitados por uma cercadura com concheados, flores, marmoreados e uma moldura. Rodapé com azulejos marmoreados.
Piso 1, divisão 6
Lambril de azulejos figurativos em azul e branco da 2ª metade do século XVIII. Painéis com cenas de chinoiserie, delimitados por uma cercadura com concheados, flores, marmoreados e uma moldura. Rodapé com azulejos marmoreados.
Piso 1, divisão 8
Lambril de azulejos figurativos em azul e branco da 2ª metade do século XVIII. Painéis com cenas religiosas, delimitados por uma cercadura com concheados e marmoreados. Rodapé com azulejos marmoreados.
Piso 0, divisão 1
As paredes do átrio são compartimentadas em painéis por molduras de óvulos e dardos; o tecto, de um plano horizontal, é preenchido por octógonos centrados por rosetas, alternando com pequenos quadrados. O pequeno átrio que antecede a caixa da escada mostra um tecto de um plano rectilíneo centrado por rosácea rodeada pelos mesmos motivos geométricos que preenchem o tecto do átrio principal. Relevos em branco sobre fundo branco; dourado aplicado nas molduras de óvulos e dardos. Século XIX, 2ª metade.
Piso 1, divisão 1
As paredes da caixa da escada são compartimentadas em painéis por molduras de óvulos e dardos; o tecto sanqueado, de planta oval, mostra a meio do pano central uma grande rosácea de enrolamentos de acanto; o fundo é densamente preenchido por uma malha de pequenas rosetas; nos panos oblíquos do tecto, dentro de molduras rectangulares, repetem-se oito cartelas flamengas, ladeadas por meninos aos pares e enrolamentos de acantos; a meio das cartelas destacam-se os bustos do infante D. Henrique, de navegadores (Vasco da Gama, Fernão de Magalhães e Pedro Álvares Cabral) e de escritores portugueses (Fernão Lopes, Luís de Camões, João de Barros e Bocage). Relevos em branco sobre fundo branco; dourado aplicado nas molduras de óvulos e dardos. Século XIX, 2ª metade.
Piso 1, divisão 4
Tecto em masseira de planta rectangular. O pano central é decorado por concheados entrelaçados com uma pluma e uma ramada de grandes dimensões, os panos laterais por plumas atadas com fitas. Os motivos em relevo estão pintados em verde e cor de camurça sobre fundo branco. Século XVIII, 3º quartel.
Piso 1, divisão 5
Tecto em masseira de planta rectangular. O pano central é decorado por ornatos em “C” e em “S”, fitas e motivos vegetalistas em cor de camurça sobre fundo rosa; nos panos laterais destacam-se plintos compostos por concheados de contornos flamíferos e preenchidos por engradados, sobre os quais se apoiam vários instrumentos musicais, indiciando a função desta sala; também aqui os relevos são pintados de cor de camurça, rosa, castanho e branco sobre fundo rosa. Século XVIII, 3º quartel.
Piso 1, divisão 6
Tecto em masseira de planta rectangular. No pano central e nos panos laterais destacam-se elaborados concheados de contornos flamíferos, em dourado sobre fundo branco. O mesmo dourado preenche as molduras que delimitam os vários panos da masseira. Século XVIII, 3º quartel.
Piso 1, divisão 7
Tecto em masseira de cantos arredondados e planta quadrada. No pano central e nos panos laterais destacam-se concheados entrelaçados e plumas pintados de vermelho sobre fundo branco. O mesmo vermelho preenche as molduras que delimitam os panos da masseira. Século XVIII, 3º quartel.
Piso 1, divisão 8
Oratório: Tecto sanqueado de planta quadrangular, compartimentado em vários painéis. No painel central estão representados um serafim e vários putti segurando um estandarte com as iniciais marianas coroadas; nos painéis laterais vários emblemas inspirados nas ladainhas lauretanas enquadrados por cartelas de concheados, motivos fitomórficos, grinaldas, cestos floridos e cabeças aladas de meninos. Relevos em branco, vermelho e dourado sobre fundo azul pastel. Século XVIII, 3º quartel.
Piso 0, divisão 1
Pavimento de lajes de calcário branco, cinzento, negro e vermelho, compondo desenho geométrico de padrão cúbico perspectivado, com cercadura de losangos e triângulos.
Revestimento parietal de pedra calcária intercalado com painéis moldurados e filetados de dourado com série de óvulos.
Pavimento de mosaicos brancos, azuis, negros, vermelhos e cor-de-laranja, de composição geométrica centrada por uma cruz envolvendo estrela.
Piso 1, divisão 1
Porta em arco recto encimada por óculo, emoldurados com filete dourado com série de óvulos.
Parede com apainelados e janela em arco quebrado, emoldurados com filete dourado com série de óvulos.
Porta em arco polilobado recortado, com pedra de fecho vegetalista volutada, encimada por óculo emoldurados com filete dourado com série de óvulos e ladeados por pequenos painéis triangulares recortados, com ramagem estilizada em volutas.
Paredes com apainelados e sanca, emoldurados com filete dourado com série de óvulos.
Pavimento de mosaicos cerâmicos polícromos de composição geométrica, integrando motivos vegetalistas e florais em barras, frisos e losangos.
Porta em arco rebaixado com recortes laterais, florão na enjunta e fecho encimado por cornija em forma de cartela vegetalista.
Lambrim de azulejos, azul e manganês sobre branco, imitando apainelados intercalados por elemento floral.
Piso 1, divisão 2
Porta em arco rebaixado com recortes laterais, florão na enjunta e fecho encimado por cornija em forma de cartela vegetalista.
Piso 1, divisão 8
Mesa de altar em forma de urna encimada por pequeno retábulo de madeira centrado por crucifixo entre painéis, flanqueado por colunas torsas e rematado por frontão recortado, tudo de madeira pintada a imitar pedra, com frisos dourados. De cada lado do altar, um lambrim de azulejos azuis e brancos com medalhão envolto por cartela, tendo um anjinho a segurar uma lua, no da esquerda, e um sol, no da direita.
Coro-alto com varandim de balaustres finos de madeira.