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    Cirillo Wolkmar Machado (1748-1823)

    Cirillo Wolkmar Machado (1748-1823)
    XVIII,XIX

    Pintor que viveu entre 1748 e 1823, tendo sido discípulo de João Pedro Volkmar, seu tio, e estudado em Roma, regressando a Lisboa em 1777 onde tentou criar uma Academia do Nú. Pintou painéis e tectos em igrejas, palácios e casas nobres, alguns em parceria com Parodi, intensificando a sua influência italiana e a primazia da sua visão de ideal classicista que dominou toda a sua obra.

    Foi nomeado pintor do Príncipe Real e realizou trabalhos em casas senhoriais lisboetas de que se destacam as pinturas do Palácio Quintela na Rua do Alecrim, como o Concílio dos Deuses no tecto da Sala Camoniana, circundado por três medalhões com outras tantas passagens dos Lusíadas, e também os tectos dos palácios do Duque de Lafões, Marquês de Loulé e Marquesa de Belas e as pinturas decorativas no tecto do Salão de Entrada, do pano de boca de cena e diversos cenários no Teatro Nacional de S. Carlos e também no do Salitre.

    Cirillo executou igualmente pinturas religiosas, como uma Última Ceia para a igreja de S. Sebastião, o tecto e decorações na Igreja do Loreto, em 1785, o quadro de S. Pedro de Alcântara na igreja da mesma invocação, e uma Nossa Senhora da Graça e o Arrependimento de S. Pedro na igreja do Senhor Jesus da Piedade de Elvas.

    São também da sua autoria alguns projectos arquitectónicos, como o do Palácio da Relação e da Cadeia.

    Para o Palácio do Convento de Mafra realizou, entre 1796 e 1807, uma campanha pictórica de frescos alegóricos de exaltação da Casa Real e feitos heróicos dos portugueses, salientando-se as pinturas dos tectos da Sala dos Vedores, com a Queda de Faetonte e da Casa das Descobertas com retratos de Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral e do Adamastor, cujos estudos preparatórios datam de 1798, a decoração dos Oratórios norte e sul e de uma saleta com a representação da Fecundidade, a Sala das Audiências com grisalhas com motivos alusivos à Guerra da Restauração sobre estudos de Sequeira, e o fresco de Flora num quarto que o pintor habitou no palácio.

    De regresso à capital, em 1808, executou diversas pinturas para determinadas celebrações e comemorações, como o fim das invasões francesas, o Desagravo na igreja do Sacramento, a homenagem ao Príncipe-regente de Inglaterra ou o casamento do infante D. Pedro. Em 1814, a convite do Visconde de Santarém, Cirillo realizou várias pinturas no Palácio da Ajuda, com temática histórica acompanhada de figuras mitológicas, como no tecto da Sala do Despacho com um conjunto alegórico da Aurora, Felicidade Pública e Abundância, o tecto da Sala da Audiência, em colaboração com Fuschini, com o Regresso de D. João VI em que Neptuno acolhe o monarca recém-chegado do Brasil, dois painéis alusivos à mesma temática, executando ainda os esboços para as oito sobreportas da mesma sala, em 1817.

    O seu trabalho de teórico foi igualmente importante para a sua caracterização como pintor. Em 1815 traduziu 1ª dição das Honras da Pintura, de Bellori, de 1677, que tivera cargo de “antiquário de Roma”, o que vai ao encontro do sentido arqueológico e historiográfico das obras de Cirillo que, inclusivamente, enaltece Winckelmann com quem partilha o gosto pela arte e temas da Antiguidade Clássica. No Prólogo discorre sobre a periodização histórico-artística e sobre o papel dos mecenas em termos sociológicos e o modo como se relacionam com o artista, de forma por vezes perniciosa, por falta de cultura, criticando fortemente Napoleão, por oposição a Luís XIV, protector das Artes, sendo que estas deveriam estar ao serviço do poder absoluto e do divino, considerando Roma como o único centro criador válido. No final da sua vida executou pinturas para a Real Colegiada e Santa Maria da Alcáçova em Santarém e para a Capela do Comendador de Malta, Bernardino Pais, em Mangualde.

    (Lina Oliveira)

     

     

    Bibliografia

    CARVALHO, Aires de – “O Pintor Cirilo Volkmar Machado”. In Boletim do Museu Nacional de Arte Antiga, vol. III, nº 2, 1956.

    PAMPLONA, Fernando de – Dicionário de Pintores e Escultores Portugueses, vol. V. Lisboa: Liv. Civilização Editora, 1988.

    PEREIRA, Paulo (dir.) – História da Arte em Portugal, vol. III. Lisboa: Círculo de Leitores, 1995.

     

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    PTCD/EAT-HAT/11229/2009

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