Nota
Profundamente transformado ao longo dos séculos, confrontamo-nos aqui com a representação do Paço Real de Santos após as remodelações mandadas executar por D. Manuel I. Debruçado sobre as margens do Tejo e localizado, na época, nos arredores de Lisboa, o Paço de Santos, com as suas vistas alargadas, jardins frondosos e bons ares, constitui uma precoce tipologia de quinta de recreio que se desenvolve na Época Moderna num movimento de valorização da natureza. As grandes obras deste Paço estiveram a cargo de João de Castilho, como nos confirma a carta de quitação passada ao arquitecto e assinada por D. João III, onde as obras são descritas: em uma varanda e outras coisas meudas que fez nos ditos paços, tais como portaes, janelas, bocall do poço e coregymento do jardim. Por esta carta podemos comprovar que a grande varanda representada na iluminura de Simon de Bening é da responsabilidade de João de Castilho e atestar a divulgação e importância emblemática que este elemento assume na arquitectura civil do período manuelino.
Segundo a crónica de Damião de Góis, D. Manuel nunca deixará de vir, de tempos a tempos, habitar este local, recebendo embaixadas ou simplesmente tendo despacho em uma casa de madeira que ali estava, na parte do cais, posta sobre a água.
Bibliografia
Carita, Helder, Le Palais de Santos, Lisboa, Editions Chandeigne, Quetzal, 1995
Sousa Viterbo, Dicionário Histórico...,Lisboa, Casa da Moeda-Imprensa Nacional, vol.I, pag.193.
Gois Damião de, Crónica de el-Rey D. Manuel,Ed. José da Felicidade Alves (1ª ed. 1554). Lisboa: Livros Horizonte, 1988. parte I, cap. XLVI.
Silva, A. Vieira da, “Iconografia de Lisboa, notícia histórica, in Revista Municipal, lisboa, nº 32, 1947, pp.5-18.