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Enquadramento Histórico e Paisagístico
Esta propriedade remonta ao período inicial de ocupação da cidade de Petrópolis na primeira metade do século XVIII, período marcado pela hegemonia das famílias Goulão e Corrêa. Manoel Antunes Goulão, português nascido em Alcains, foi sesmeiro do Caminho do Inhomirim, tendo construído nessa sesmaria a propriedade Fazenda do Rio da Cidade, onde mais tarde nasceu Brites Maria de Assunção, fruto de seu casamento com Caetana de Assunção em 1721. Manoel Corrêa da Silva, nascido em Portugal, fez fortuna na região de Goiás com a mineração e, ao buscar se aproximar da Corte, adquiriu o Sítio da Ponte em 1745. Esta última propriedade, atualmente conhecida como Casa do Padre Corrêa, era limítrofe com a fazenda de Manoel Antunes Goulão, que além de seu vizinho, tornou-se mais tarde seu sogro. A união das famílias se deu com o casamento de Manoel Corrêa da Silva e Brites Maria de Assunção Goulão, que após o consórcio deram início ao processo de unificação de propriedades da região. Nesse processo foram adquiridas a Fazenda Samambaia, Fazenda Arca de Noé, Fazenda Santo Antônio e Fazenda Olaria de Colares (SALGADO, 2018).
Localizada na confluência dos rios Morto e Piabanha, a Fazenda do Padre Corrêa (hoje um colégio na localidade conhecida como Corrêas) destacou-se por ter proporcionado pouso e abastecimento para as caravanas que percorriam a nova variante, por sua produção agrícola e indústria artesanal de ferraduras de elogiável qualidade.
“As terras da fazenda foram doadas a Manoel SIlva Corrêa pela carta régia de 5 de janeiro, ficando obrigado a construção de uma capela onde se rezaria missas aos domingos e dias santificados e a dar hospedagem às autoridades do Reino, que por lá passassem em suas viagens entre o Rio de Janeiro e Minas Gerais.” (O Globo, 1978)
Morfologia e Composição
A casa sede é assobradada e possui uma planta regular com estrutura formada por grossas vigas de madeira. De acordo com a descrição de Luiz de Miranda, a casa possuía um total de 130 janelas e 97 portas. A edificação é cercada por pomares e tem uma ampla varanda, bem como uma capela localizada em uma de suas laterais. Também possui uma varanda com arcos abatidos entre a casa e a capela, sustentada por colunas.
Fachada Principal
"A vista frontal, se pode ver a capela, seguida da casa, os 14 degraus que levam a entrada principal, que começam com dois palanques de ferro, usados para atacar cavalos, e terminam numa peça de ferro, semelhante a um estribo, que é o limpador de pés." (O Globo, 1978)
A varanda conecta a parte primitiva da edificação ao restante da casa. A partir das imagens mais antigas, do século XIX, já é possível identificar a ampla fachada, porém é provável que seja resultado de ampliações desde a data de sua construção em 1750.
Fachadas Secundárias
Programa Interior
Capela
"Com seu adro a frente, sua porta secular de enormes trincos e ferragens, soalho de tábuas muito largas (o que também ainda se observa em toda a casa) e ainda guardava, em vias de desaparecimento, com suas imagens partidas, o célebre presepe, tão citado pelos viajantes... O côro, com sua balaustrada trabalhava, comunicava-se com a capela por uma escada de madeira tosca e íngreme e abria para o adro duas janelas pequenas e características. O altar, belíssima peça de talha, caiado de branco com frisos dourados, dava bem a impressão de oratório colonial. Sobre este altas ainda eu encontrei várias imagens: uma Nossa Senhora do Amôr Divino (a mesma citada por C. Matos) esculpida em um só bloco de madeira e tendo à cabeça custosa e pesada corôa de prata trabalhada e hoje desaparecida... Ao lado havia uma Senhora Sta. Ana, tendo, de pé, junto a si, a Virgem maria, a quem ensinava a lêr. Esta imagem se encontra hoje no Convento dos Franciscanos de Petrópolis.
Construindo-se a igreja de Corrêas, foram, por doação de Antônio Machado, para lá transferidos o altar centenário e a histórica imagem da Virgem do Amôr de Deus, sendo, em seu lugar colocado um outro altar também secular e histórico, havia muito abandonado: o da capela da fazenda da "Olaria", que se erguia onde se levanta hoje a séde da fazenda S. Manuel." (LACOMBE, 1938)
Documentação
"Impresso colorido à mão mostrando a fazenda do Padre Corrêa, que pertenceu ao padre Antônio Tomás de Aquino Corrêa. No local, hoje funciona o Colégio Padre Corrêa, administrado pela Companhia das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo." Disponível em: <http://dami.museuimperial.museus.gov.br/handle/acervo/5454>
"Impresso colorido à mão reproduzindo a têmpera de Hagedorn em que se vê parte da fazenda do Padre Corrêa onde, atualmente, funciona o Colégio Padre Corrêa, no bairro de Corrêas. Vê-se, em primeiro plano, a figueira que serviu de abrigo para Joaquim José da Silva Xavier, vulgo Tiradentes." Disponível em: <http://dami.museuimperial.museus.gov.br/handle/acervo/5417>
"Fotografia mostrando a sede da fazenda do Padre do Corrêa onde, atualmente, funciona o Colégio Padre Corrêa. Vê-se, em primeiro plano, a figueira sob cujos galhos se abrigava Tiradentes." Disponível em: <http://dami.museuimperial.museus.gov.br/handle/acervo/5430>
Fotografias no acervo Iphan.
Bibliografia
AMBROZIO, Julio Cesar Gabrich. O presente e o passado no processo urbano da cidade de Petrópolis. Uma história territorial. 2008. Tese (Doutorado em Geografia Humana) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008. doi:10.11606/T.8.2008.tde-06012009-163050. Acesso em: 10 abr. 2023
Família Espeschit. A cidade de Petrópolis. Disponível em: <https://www.espeschit.com.br/historia/historia/petropolis/>. Acesso em: 21 set. 2023.
FROÉS, Carlos Oliveira. Petrópolis - A saga de um caminho. I.H.P. 2005. Disponível em: <https://ihp.org.br/?p=4181>. Acesso em: 13 abr. 2023
FRÓES, Gabriel Kopke. Dona Arcângela, a nobre dama de Corrêas. I.H.P. 2005. Disponível em: <https://ihp.org.br/?p=4215>. Acesso em: 13 abr. 2023
LACOMBE, L. A mais velha Casa de Correas. RPHAN, nº 2, Rio de Janeiro, 1938, pp. 93‐100.
Petrópolis - Casa do Padre Correia. Ipatrimonio. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Disponível em: <http://www.ipatrimonio.org/petropolis-casa-do-padre-correia/>. Acesso em: 10 abr. 2023
RABAÇO, Henrique José. História de Petrópolis. Petrópolis: Instituto Histórico de Petrópolis, 1985, p. 13 – 15.
SALGADO, Maiza. Mestre Valentim e a Serra dos Correyas. Petrópolis, 2018.
Cronologia e Proprietários
1720 - Manuel Antunes Goulão recebe através da doação de terras no sistema de sesmaria.
1745-7 - Manoel Corrêa da Silva adquire o "Sítio da Ponte", futura "Posse do Manoel Corrêa, atual "Casa do Padre Corrêa".
1750 - Construção da sede da fazenda.
1758-59 - Cunha Barbosa transporta o Mestre Fonseca Rosa e seus auxiliares para um programa de ampliação, construção de uma capela à cavaleiro e um adro defronte, todo o rés-do-chão foi transformado em galpões e tulhas e a residência no primeiro andar, servida por escadas.
1804 - Padre Corrêa toma a administração do sítio da posse que passou a ser conhecido como Fazenda do Padre Corrêa.
1819 - Theodor von Leithold visita a fazenda e descreve com uma população de 400 escravos, contando ambos os sexos.
1819 - Saint Hillaire também visita a fazenda.
1829 - D. Pedro I propôs a compra da Fazenda a D. Arcângela, mas não conseguiu e acabou adquirindo a Fazenda do Córrego Seco e fez a compra da propriedade pela quantia de 20 contos réis.
1831 - O Imperador visita a casa durante os festejos de Ano Novo.
1919 - O novo proprietário passa a ser Stipen & Cia.
1921 - O novo proprietário torna-se os Rocha & Cia.
1923 - O novo proprietário foi Antônio Machado, um bem-sucedido comerciante de fumos no Rio de Janeiro.
1940 - Recebeu o tombamento pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), na data de 30 de abril de 1940, sob o processo de nº 196-T-1939
Antônio Tomás de Aquino
António Tomás de Aquino Corrêa da Silva tenha nascido no Rio da Cidade em 12 de novembro de 1759. Dedicou-se aos estudos das ciências humanas e teologia, tendo seguido carreira eclesiástica, sendo ordenado sacerdote em 1783. Começou a ministrar os sacramentos na região do vale do Piabanha, batizando, celebrando missas e casamentos na Capela do Rio da Cidade e na Capela da fazenda de sua família dedicada a Nossa Senhora do Amor de Deus. O sítio da Posse, ficou sob administração do padre a partir de 1804.
Ficou conhecido como Padre Corrêa e transformando sua propriedade na mais próspera fazenda da Variante do Caminho Novo. Em 1824, aos 65 anos, faleceu repentinamente, provavelmente por colapso cardíaco. Foi enterrado na igreja de S. Pedro (demolida), hoje Avenida Presidente Vargas. Deixou a casa como herança para sua irmã Dona Arcângela Joaquina.
Observações
Coordenação: Ana Pessoa (FCRB), 2023
Pesquisa: Ana Pessoa (FCRB), Ana Lúcia V. dos Santos (EAU/UFF), Sávia Pontes Paz (Faperj, FCRB)