Apresentação
Os jardins do Palácio dos Condes de Santar constituem um notável exemplo de jardim barroco ao organizar-se a partir de um eixo central que confere uma lógica longitudinal e dinâmica todo o programa paisagístico. Este eixo gerador estrutura uma sequência de plataformas em socalcos que enquadrados por um sistema de buchos talhados em pirâmide conferem ao conjunto um sentido processional de grande efeito decorativo. O programa paisagístico completa-se por dois interessantes chafarizes de grande efeito plástico que conferem um significado estético muito particular aos jardins desta casa.
Enquadramento histórico e arquitetónico
Com uma sequência de obras que ao longo de séculos vão engrandecendo o edifício, a casa parece desenvolver-se a partir de um núcleo inicial de época manuelina como testemunha o portal situado na capela da casa. Na segunda metade do século XVII a casa sofre grandes melhoramentos coincidindo com a construção da capela cuja altar e rara decoração azulejar atestam um grande apuramento estético. Será ainda em vida deste último que a casa volta a sofrer um conjunto de ampliações com a construção da chamada Cozinha Velha, em 1690. Ao longo do século XVIII a casa vai recebendo melhoramentos com particular incidência nos finais do século a introdução de um núcleo de escadas reais a par da construção do grande chafariz dos cavalos. Nos inícios do século XX a casa volta a recebe novas obras de renovação na ala nascente da casa com a construção de uma nova galeria de colunas.
No frontão da entrada principal escudo oval em cartela, ornado de paquife e elementos vegetalistas. Com coronel de nobreza. Esquartelado: I - Melo . II - Amaral. III - Castelo-Branco IV - Pais.
Sobre o portal da capela armas de dignidade eclesiástica. Escudo Ibérico, timbre e chapéu eclesiástico, de onde saem dois cordões de 6 borlas ( Bispo) que se dividem em três ordens (1+2+3). Escudo Partido: I - Pais. II - Amaral.
Composição e estrutura paisagística
Na sua estrutura longitudinal marcada por um grande eixo central que percorre uma sequência de terraços enquadrados por muros de bucho, os jardins do Palácio dos Condes de Santar integram-se numa tipologia de jardim barroco com claras afinidades a outros jardins como é o caso do Palácio dos Biscainhos, em Braga, onde vemos repetir-se a mesma estrutura com um patamar de aparato seguido de outros terraços de laranjal e terminando de forma idêntica num terraço marcado por grande lago de desenho elíptico, solução, mais uma vez, de tendência barroca. Completam esta estrutura um conjunto de muros em bucho que, encimados por altas pirâmides, conferem a todo o conjunto um sentido processional de forte sentido cenográfico e barroco.
Varanda das Quatro Estações
Numa íntima relação com o traçado dos jardins a varanda alpendrada organiza-se como elemento estruturante do conjunto. Marcada por uma larga sequência de sete colunas toscanas a varanda assume claras funções de camarote real assumindo-se como pedra de fecho do conjunto de terraços que a partir deste ponto vão descendo em socalcos.
Elemento emblemático da vasta varanda as figuras de convite são da autoria de José Maria Pereira Júnior, conhecido como Pereira Cão que aqui se deslocou a Santar nos finais do século XIX. Natural de Setúbal onde nasceu em 1841, Pereira Cão Pintor foi um decorador e cenógrafo tendo trabalhado com os cenógrafos italianos Giuseppe Cinatti e Achiles Rambois, com quem virá a colaborar por mais de vinte participado nas reformas do Palácio da Ajuda na instalação do rei D. Luís e D. Maria Pia.
https://acasasenhorial.org/acs/index.php/pt/artistas/264-jose-maria-pereira-cao-1841-1921
Figuras de convite pintadas por Pereira Cão, representando as quatro estações: Primavera, Verão Outono e Inverno.
Jardim de Aparato e Passeio dos Limoeiros
Em clara inter-relação com a vasta varanda de colunas situa-se um primeiro patamar decorado no seu interior por um delicado desenho de buchos com quatro estátuas situadas em cada canto. Junto da fachada dos jardins desenvolve-se um passeio pontuado por limoeiros que testemunha uma influência mais mediterrânea que contornando os jardins faz a ligação entre o grande portal de entrada, as escadas da varanda alpendrada dando acesso a poente ás zonas do Chafariz da Cozinha Velha e mais abaixo ao Chafariz dos Cavalos.
Em clara inter-relação com a vasta varanda de colunas situa-se um primeiro patamar decorado no seu interior por um delicado desenho de buchos com quatro estátuas situadas em cada canto. Junto da fachada dos jardins desenvolve-se um passeio pontuado por limoeiros que testemunha uma influência mais mediterrânea que contornando os jardins faz a ligação entre o grande portal de entrada, as escadas da varanda alpendrada dando acesso a poente ás zonas do Chafariz da Cozinha Velha e mais abaixo ao Chafariz dos Cavalos.
Passeio das Cameleiras
Fazendo a transição entre o jardim de aparato e os terraços situados a Sul estende-se uma alameda de cameleiras que se forma como uma extensa nave arbórea. Esta solução parece ligar-se a uma tradição desenvolvida nos jardins do Norte do país mais especificamente de zona de Ponte de Lima e da região de Bastos.
Referidas até ao século XVIII como japoneiras estas flores trazidas do Japão facto que é confirmado por especialistas internacionais que afirmam serem estas as mais antigas da Europa, sendo as japoneiras, dos jardins dos Condes de Campo Belo em Gaia consideradas as mais antigas e datáveis dos finas do século XVI . Estas plantas, que com alguma mestria podem ser talhadas de formas variadas, vão servir de suporte físico ao desenvolvimento da arte da topiária.
Chafariz de Santo António
De linhas muito sóbrias com uma estrutura tripartida com um núcleo central ladeado por dois longos tramos laterais, este chafariz integra-se nas grandes obras realizadas entre os finais do século XVII e inícios do século seguinte de que se destaca a notável cozinha da casa. Deste período são os azulejos da fonte atribuídos, pelas suas peculiares características, a Gabril del Barco, mais importante pintor dos inicios do século XVIII e que introduz na azulejaria nacional um gosto por envolvimento decorativo mais exuberante, e uma pintura mais liberta da influência da gravura.
Segundo Terceiro patamar
Na sequência do jardim de aparato e o Passeio das Cameleiras, o conjunto desdobra-se em dois grandes patamares debruados de buchos e marcados nas entradas por altas pirâmides e bolas. Segundo descrições antigas, estes terraços seriam ocupados pelo laranjal que recebia árvores de fruto dispostas geometricamente e que ainda no século XVII e XVIII eram descritas como parte integrante de emblemáticos jardins como o doPaço Real de Alcântara.
Chafariz dos Cavalos
De apurado desenho e de grandes proporções o Chafariz dos Cavalos integra-se numa tipologia de elementos arquitectónicos marcados por um gosto de forte sentido plástico e cenográfico associados à tradição e do chamado Barroco Nortenho. Com a data de 1790, a Fonte dos Cavalos mandada construir por Francisco Lucas de Melo conforme refere a inscrição que se encontra na cartela no tramo central do chafariz Ao centro o chafariz é marcado por um brasão, encimado por frontão contracurvado sobre o qual uma máscara grotesca lança água para uma bacia. Já no princípio do século XX o chafariz recebeu um revestimento de azulejos de José Maria Pereira Cão, com quatro painéis representando cavaleiros com os costados da família de Santar, painéis encomendados por Pedro Paulo de Melo de Figueiredo Pais do Amaral, 2º Conde de Santar.
Terraço do Tanque Grande
No final da alameda central e na sequência dos terraços, os jardins desembocam numa clareira marcada por um grande lago de granito. De forma elíptica este grande lago remete-nos, uma vez mais, para os pressupostos do barroca do Norte do País e as afinidades deste jardim com os jardins do Palácio dos Biscainhos em Braga. De forma muito peculiar, os dois jardins apresentam uma estrutura muito idêntica com uma sequência de terraços ligados por um eixo central terminando numa clareira marcada ao centro por um grande lago elíptico.
Atestando a grande intervenção do século XVIII esta clareira é enquadrada por uma monumental balaustrada em granito que estendendo-se a toda a largura do terraço conferem aos jardins da casa uma marcada grandiosidade.
Cronologia e Proprietários
Séc.XIII - D. Sancho II elevou a Senhorio e coutou a Quinta do Casal Bom, primeiro nome da Casa de Santar
Séc. XVI – núcleo manuelino que hoje é representado pelo portal de desenho manuelino localizado na capela da casa.
Séc. XVII – Em 1660, instituição do vinculo de Santar por Francisco Pais do Amaral casado com Francisca Pais do Amaral que mandam construir a capela dedicada a S. Francisco de Assis
Em 1678 - António Pais do Amaral, sepultado na capela da casa.
Em finais do século XVII, Casamento Maria Luísa Pais do Amaral herdeira do vínculo de Santar, com Francisco Lucas de Melo
1690 - Construção da Cozinha Velha;
1700 - Data dos azulejos figurativos que decoram a fonte no exterior da Cozinha Velha;
1727 - Inicia-se a construção das adegas, pátio central e Fonte dos Cavalos, por ordem de Roque Jacinto de Mello, obras que se prolongaram até ao início do século seguinte, com o filho do mesmo, José de Mello Pais do Amaral
1790 - Chafariz dos Cavalos mandado construir por “ordem de Roque Jacinto de Mello” conforme inscrição na cartela central.
Séc. XIX – Em 1849 José de Melo Pais do Amaral de Souza Pereira de Vasconcellos e Meneses, 7º senhor do morgado de Santar e Corga e 4º do de S. João de Lourosa que teve permissão de usar o título de sua mulher, Maria Rosa de Figueiredo da Cunha e Melo Lacerda e Lemos (1832-1882) foi a 1ª Viscondessa de Taveiro e a 7º senhora do morgado do mesmo nome.
Jose de Melo Pais do Amaral, fidalgo da Casa Real e capitão-mor dos concelhos de Senhorim e Canas de Senhorim.
Em 1878, o rei D. Luís reconhecia-lhe, em verificação da 2ª vida, o título de visconde de Taveiro.
Séc. XX
1904 - D. Carlos atribui o título de Conde de Santar a José Pedro Paulo de Mello de Figueiredo Pais do Amaral.
Jose Pedro Paulo de Melo de Figueiredo Pais do Amaral da Cunha Eça Abreu e Souza de Meneses Pereira de Lacerda Lemos e Vasconcellos (1853-1914) foi fidalgo da Casa Real e senhor da Casa de Santar e outros vínculos.
O seu filho Pedro Paulo de Melo Figueiredo Pais do Amaral (1876-1941) seria o 2º conde de Santar, por autorização de D. Manuel II. Homem de grande cultura era um verdadeiro colecionador de arte e um aficionado tauromáquico. Casou com D. Amália de Melo
Século XX Maria Teresa Lancastre de Mello filha única e Senhora da Casa de Santar dirige, ao longo da segunda metade do século XIX, os destinos da casa
Casamento de Maria Teresa Lancastre de Mello com José Luís d´Andrade de Vasconcellos e Souza, juntam-se a representatividade das ilustres casas, com honras de parente da Casa Real, Óbidos, Sabugal, Palma, Alva e Santa Iria.
sec. XXI - José Luis Vasconcellos e Souza integra os jardins num roteiro de jardins históricos situados na envolvente da Casa de Santar.
Bibliografia
CARVALHO, A. Polónio de, Santar - Roteiro Artístico, Nelas, Câmara Municipal de Nelas, 2001
CARITA, Helder, Tratado da Grandeza dos Jardins em Portugal, Lisboa, Ed. Autores, 1987.
SILVA, António Lambert Pereira, Nobres Casa de Portugal, vol. 3, Porto, s.d.;
Nota
Texto- Helder Carita
Fotografia -António Homem Cardoso -Helder carita eTiago Molarinho