Outras Designações
High Life Club, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA)
Enquadramento Urbano e Paisagístico
O palacete fica situado na rua Santo Amaro, n. 28, no bairro da Glória. Esta rua se originou da antiga Chácara da rua do Catete, pertencente a Amaro Velho da Silva (1780-1843), o Visconde de Macaé. Constava em 1820 como proprietário das terras com testada para a rua do Catete e fundos até o alto do morro, próximo a atual rua Almirante Alexandrino. Como não teve filhos, o Visconde deixou a chácara para seu sobrinho José Maria Velho (1795-1860) que por volta de 1846 vendeu grande parte dos terrenos. Em 1852, em uma antiga servidão da família Velho da Silva, foi aberto o caminho que daria acesso aos terrenos do alto, surgindo assim a rua Santo Amaro.
O primeiro registro onde a casa aparece é no mapa desenhado pelo engenheiro F. Carneiro de Campos de 1858. A informação seguinte que se tem notícia é do leilão de venda do então proprietário, Francisco Joaquim Corrêa de Brito. O palacete aparece novamente na planta de 1860, junto com outras edificações como o Hospital da Beneficência Portuguesa.
O terreno encontra-se em trecho de pequeno aclive, ainda no início da rua. No desenho de 1866, desenvolvido por Gotto, é possível observar com detalhes o palacete e as demais construções dentro do lote. A residência que está implantada no centro do lote também foi desenhada na planta de 1870, de Leopoldo Silva e outros. Em 1935 a casa aparece no levantamento da Secretaria de Viação, Trabalho e Obras Públicas.
Morfologia e Composição
A forma primitiva do palacete possuía dois pavimentos e uma planta retangular, que reforçava a horizontalidade. A casa, elevada do solo por um porão não habitável, era marcada pelo ritmo dos vãos, presença da platibanda ao redor de todo telhado e um frontão curvo na fachada principal. Os registros mais antigos do palacete demonstram que um anexo teria sido agregado aos fundos da casa, aumentado a área. O telhado referente ao trecho inicial da casa possuía três águas e uma mansarda, que estava voltada para a fachada lateral direita. O trecho do anexo aos fundos possuía quatro águas e uma chaminé. Esta forma primitiva foi alterada em 1912, quando o novo proprietário promoveu reformas que adicionaram o terceiro pavimento à casa, junto com uma varanda, além de um novo telhado agora único com quatro águas. O novo pavimento seguiu o mesmo ritmo dos vãos existentes nos pavimentos abaixo. Atualmente, a casa apresenta-se com o terceiro pavimento completamente fechado e com uma torre de escadas e elevadores anexada à fachada direita.
Fachada Principal
A fachada principal da casa primitiva era marcada pela presença de cinco vãos em cada pavimento, incluindo o porão não habitável. Era coroada por uma platibanda sólida com frontão de forma curva, que foi alterada em momento desconhecido sendo inserida uma platibanda com elementos vazados e o frontão removido. Em 1912 uma reforma inseriu mais um pavimento na casa, seguindo o mesmo número e ritmo dos vãos existentes. Alguns anos depois foi inserida uma nova platibanda sólida com elementos decorativos e um frontão com brasão e sigla do então proprietário. Atualmente os vãos do porão estão fechados.
Fachadas Secundárias
As fachadas secundárias possuíam nove vãos, no trecho inicial da casa, e mais dois vãos no trecho do anexo. Com a reforma ocorrida em 1912, os vãos foram mantidos, porém transformados de janelas em portas que davam para pequenas varandas ou apenas eram fechados com gradil de ferro. A fachada lateral direita atualmente apresenta uma torre de escadas e elevadores que conecta os pavimentos.
Programa geral, tipologia e planta
A edificação possui uma planta retangular e sua forma primitiva contava com apenas dois pavimentos, sendo acrescido mais um na reforma ocorrida em 1912. O acesso pode ser feito por portas presentes nas duas fachadas laterais. Os registros não dão conta da distribuição interna no período da moradia, porém acredita-se que no pavimento térreo se distribuíam as áreas sociais e de serviço, enquanto que o pavimento superior abrigava as áreas íntimas. Com a reforma para transformação da casa em clube, a maioria dos ambientes foram transformados em salões.
Cronologia e Proprietários
1861 - O primeiro registro que se tem do palacete da rua Santo Amaro, n. 12, é o leilão de venda do então proprietário Francisco Joaquim Corrêa de Brito.
1864 - A residência, que tinha sido adquirida por Manoel da Rocha Leão, vai novamente a leilão sendo comprada por José Maria Chaves, que faleceu no mesmo ano, levando a mais um leilão. Por fim, o palacete foi adquirido por Francisca Bernardina de Souza Carvalho, a 1ª Baronesa do Amparo.
1870 - Até a década de 1870 a casa foi alugada para diferentes moradores, entre eles se destaca Jacintho Rodrigues Pereira Reis, que foi cirurgião da Imperial Câmara dos dois Imperadores do Brasil, fundador do Instituto Hahnemanniano do Brasil e também político.
1875 - A Baronesa do Amparo falece e deixa a casa de herança para seu filho, Manuel Emílio Gomes de Carvalho, o Barão do Rio Negro.
1898 - O Barão do Rio Negro falece em Paris e alguns anos depois sua viúva, a Baronesa do Rio Negro, vende algumas de suas propriedades em leilão.
1905 - Empresário italiano, Paschoal Segreto, compra o palacete, por 40 contos, e instala nele a sede do High Life Club.
1907 - Nesta época houve uma mudança na numeração da rua, ficando o palacete agora na rua Santo Amaro, n. 28.
1912 - Foi realizada uma grande reforma no palacete para adaptação ao clube, que deu a atual feição eclética. Paschoal Segreto contratou o construtor José Gonçalves Rittes para a construção de mais um pavimento e adaptação dos demais pavimentos existentes. Nesta época houve mudança no nome da rua, que passou a ser chamada rua Dom Carlos I, a numeração permaneceu a mesma.
1919 - A rua volta a ser denominada rua Santo Amaro, permanecendo a numeração.
1958 - O High Life Club fazia seu último baile de carnaval no palacete, que nesse mesmo ano passou a ser alugado ao Serviço Social Rural.
1962 - A Superintendência da Reforma Agrária (SUPRA) passou a ser o novo órgão que também se instalou na casa.
1970 - Em 1964 a SUPRA foi dividida em dois: Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrário e o Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, esse último que mais tarde se tornaria o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), que em 1970 comprou o palacete por 850 milhões de cruzeiros antigos.
1980 - O prédio foi desocupado devido às péssimas condições de conservação. Voltando à atividade alguns anos depois.
1987 - A casa foi tombada em nível municipal pelo decreto 6.514, de 16 de março.
2017 - Foi desenvolvido um projeto de restauro e recuperação estrutural, inclusive da infra estrutura necessária para as atividades do INCRA, porém não foi executado.
Atualmente o prédio é propriedade do INCRA e encontra-se desocupado.
Francisco Joaquim Corrêa de Brito, comerciante portugues, viveu mais de 30 anos no Rio de Janeiro, foi Comendador de Cristo. Era casado com Florinda Joaquina Corrêa (xxxx-1871), com quem teve os filhos Florinda Joaquina Corrêa, Francisco Joaquim Corrêa de Brito Junior e João Joaquim Corrêa. Foi procurador na Administração dos Expostos na Santa Casa de Misericórdia, Secretário da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, tesoureiro da enfermaria de Nossa Senhora da Conceição e conselheiro mordomo do Hospital da Sociedade Portuguesa de Beneficência. Seu escritório estava localizado na rua da Quitanda, 45. Em 1861 voltou para Portugal, estabelecendo-se na cidade de Matosinhos, no Porto. É nesse período que se realiza o leilão do Palacete da rua Santo Amaro.
Manoel da Rocha Leão, nasceu em Portugal e naturalizou-se brasileiro em 1857. Era casado com Mariana Ribeiro (1810-xxxx). Em 1864 retirou-se da Côrte em direção ao interior, vendendo suas propriedades na capital e fixando-se na Fazenda da Cachoeira em Campo Bello. A Fazenda Cachoeira, também ficou conhecida como Fazenda Itatiaia, sendo uma das maiores produtoras de café da região. Com a produção de café foi premiado com a medalha de ouro na competição pelo melhor café do mundo na Exposição Universal de Paris. Foi Juiz de Paz na Freguesia de S. José do Campo Bello em 1865 e, no ano seguinte, Vereador na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Campo-Alegre. Recebeu a comenda da ordem de Cristo em 1871. Em 1873 partiu para a Europa, onde permaneceu por um breve período.
José Maria Chaves, nasceu em 1830. Era filho de Maria Thomazia Chaves e Francisco José Chaves. Cursou medicina na escola da Côrte, onde se formou médico-cirurgião em 1850. Aperfeiçoou-se na Europa e ao retornar ao Brasil concorreu e assumiu a vaga de professor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Em 1863 foi nomeado membro honorário da Academia Imperial de Medicina. Faleceu em 1864, deixando suas propriedades para sua viúva, que colocou o palacete à leilão no mesmo ano.
Francisca Bernardina de Souza Carvalho, batizada em 1812 em São João d’El Rei, província de Minas Gerais. Era filha de Manoel Ferreira Leite (1766-1819), irmão do Barão de Aiuruoca, e de Josefa Souza Monteiro (1775-1816), irmã do Barão de Itambé. Casou-se em 1812 em Resende, província do Rio de Janeiro, com Manuel Gomes de Carvalho (1788-1855), o 1º barão do Amparo, com quem teve os filhos: Ana Bernardina de Carvalho (1816-1851), Joaquim Gomes de Carvalho (1830-1921), o 2º Barão do Amparo, Manuel Gomes de Carvalho (1836-1898), o Barão do Rio Negro, e João Gomes de Carvalho (1839-1899), o Visconde de Barra Mansa. Após o casamento com Manuel, morou na Fazenda Santana do Turvo em Barra Mansa. Em 1853 Manuel foi agraciado com o título de 1º Barão do Amparo, tornando-se, a 1ª Baronesa do Amparo. Com a morte de Manuel em 1855 passou a administrar junto com o filho, o Barão do Rio Negro, as propriedades e riquezas deixadas pelo marido. Francisca era proprietária de uma fazenda em Vassouras e do Palacete da rua Santo Amaro no Rio de Janeiro. Possuía ações em companhias e bancos. Faleceu em 15 de outubro de 1875.
Manuel Gomes de Carvalho, nasceu em 27 de abril de 1836 em Amparo de Barra Mansa, no Rio de Janeiro. Era filho de Manuel Gomes de Carvalho (1788-1855) e Francisca Bernardina de Souza Carvalho (xxxx-1875), os 1º barões do Amparo, irmão de Joaquim Gomes de Carvalho (1830-1921), 2º Barão do Amparo e de João Gomes de Carvalho (1839-1899), o Visconde de Barra Mansa. Casou-se em 1857 com Emília Gabriela Teixeira Leite (1840-1927) com quem teve os filhos: Emília Teixeira Leite de Carvalho (1871-1962), Francisca Leite de Carvalho (1877-1932), Manuel Emílio Gomes de Carvalho (1859-1920), Olga Gomes de Carvalho (1873-1915), Letícia Gomes de Carvalho, Maria do Carmo Gomes de Carvalho, Álvaro Gomes de Carvalho, Raul Gomes de Carvalho, Mário Gomes de Carvalho e Alice Gomes de Carvalho.
Era proprietário da Fazenda Crissiúma em Barra Mansa, que herdou de seu pai. Recebeu o título de Barão do Rio Negro em 1867. Em 1889 se associou à companhia Evoneas Fluminense, criada para explorar a construção de casas operárias no Rio de Janeiro. O arquiteto construtor desta Companhia, Antonio Jannuzzi, se tornaria seu amigo e foi a ele que Rio Negro encomendou a construção de seu palacete em Petrópolis onde veraneava com a família. Em 1892 partiu com a família para Paris, que já conhecia de outras viagens à Europa. Com dois de seus filhos criou o “Café Carvalho”, situado no bairro de Levalois Peret, onde o café era manipulado e transformado para a venda. Porém o negócio não prosperou e o que sustentou a família foram os negócios do Brasil. Manuel morreu em 27 de dezembro de 1898 em Paris.
Documentação
Cartão de visita do Barão do Rio Negro datado de 4 de outubro de 1888 com o endereço da Rua de Santo Amaro. Disponível em: <https://www.albertolopesleiloeiro.com.br/peca.asp?ID=3039001>.
Série de cartões postais do High Life Club em 1907. Disponível em: Mint Brazil Real Picture Postcard RPPC Hight Life club rRo De janeiro | Latin & South America
Plantas da reforma empreendida pelo construtor José Gonçalves Rittes em 1912. Acervo: Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro.
Imagens do High Life Club. Revista Para Todos, edição de 1 mar. 1919, 5 fev. 1921 e 7 nov. 1931.
Bibliografia
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FONSECA, Maria Rachel Fróes. REIS, JACINTHO RODRIGUES PEREIRA. Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1930), Casa de Oswaldo Cruz/ Fiocruz. Disponível em: <http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/iah/pt/verbetes/reisjarope.htm>. Acesso em 10 fev. 2022.
SETTE, Bartyra; JUNQUEIRA, Regina Moraes. Cap. 2º - JOSEFA DE SOUZA MONTEIRO. Projeto Compartilhar. Disponível em:<http://www.projetocompartilhar.org/Familia/cap02JosefadeSouzaMonteiro.htm>. Acesso em 10 fev. 2022.
BARATA, Carlos Eduardo de Almeida. Rua Santo Amaro - Beneficência Portuguesa. Rio de Janeiro desaparecido. Disponível em:<http://rio-de-janeiro-desaparecido.blogspot.com/2011/06/maria-cecilia-martins-caro-cau-e.html>. Acesso em 10 fev. 2022.
[Coordenação: Ana Pessoa (FCRB), 2022; Pesquisa, texto e edição: Andreza Baptista (PCTCC/FCRB), 2022; Plantas arquitetônicas: Ligyane Nazareth (PIBIC/FCRB); Agradecimento: Newson Monteiro e Adierson Ebeling]