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    Salão Nobre do Palácio do Machadinho

    Salão Nobre do Palácio do Machadinho
    Portugal
    XVIII

    Apresentação

    A qualidade da execução dos ornatos, a forma como a estrutura e a dimensão da sala é visualmente alterada pelo movimento do trabalho escultórico, dando a toda a composição um enorme dinamismo permite considerar este trabalho um dos mais interessantes do ponto de vista artístico das obras atribuídas a João Grossi.

    Em relação ao desenho, composição de ornatos e execução existem enormes semelhanças entre o estuques do Salão Nobre do Palácio do Machadinho com outras obras atribuídas a Grossi, nomeadamente na “Casa de Fresco” do Palácio da Vila de Sintra, o que não deixa de ser curioso que o Paço Real tenha o mesmo esquema decorativo da casa do Administrador do Contrato Tabaco.

     

     

    Enquadramento urbano

    Nos limites do Bairro da Madragoa, surge-nos um dos raros exemplos de arquitetura civil de raiz seiscentista desta zona – o Palácio do Machadinho. A família Eça e Faria tinha na antiga rua do Acipreste do Mocambo umas casas com uma ermida dedicada a N. S. da Caridade mandada erigir por D. Duarte de Eça e Faria. Em meados do séc. XVIII estas casas foram à posse de José Machado Pinto, fidalgo da Casa Real, Coronel de Auxiliares e Administrador do Contrato Tabaco, conhecido pelo Machadinho, que efetua remodelações profundas nas antigas construções, criando um novo e luxuoso edifício adaptado à sua posição social.

    A sua morte em 22/04/1771 sem deixar herdeiros diretos, levou a que o edifício passasse para a posse de seu irmão e nos anos seguintes fosse ocupado em regime de arrendamento. Em 1860 o palácio é adquirido por António Teófilo de Araújo, que o transforma radicalmente: “arrancou os azulejos que revestiam os salões, fez desaparecer o pátio e a capela, alterou divisões “, de forma a poder albergar vários inquilinos.

        

     

     

    Estrutura e composição espacial

    Da decoração efetuada no edifício, resistiu às várias campanhas de obras o programa de estuque relevado numa das salas do andar nobre. Atribuído a sua execução a João Grossi, o mais procurado dos mestres estucadores na Lisboa da segunda metade do século XVIII (pela qualidade das suas obras mas também pela ligação pessoal estabelecida com o futuro marquês de Pombal, que se torna no grande elo de ligação entre Grossi e a sua clientela), é possível que esta obra tenha decorrido na década de 1750, coincidindo com a altura em que Machado Pinto empreende um profundo restauro decorativo no edifício, do qual resultou a encomenda azulejar e o trabalho de estuque do teto do salão nobre.

            

     

     

     

    Elementos de composição: estuques

    O teto de estuque relevado do salão do Machadinho é uma composição complexa, em dois planos. Um friso alto rematado por uma sanca corrida, decorada com cartelas, grinaldas e elementos vegetalistas e um segundo nível em abóbada com o pano central limpo.

    A composição apresenta o eixo transversal marcado por cartelas compostas por elementos assimétricos, formando moldura a aves emplumadas, envolvidos por panos de gradinha.

    Nos eixos transversais, intermédios, é utilizado o mesmo esquema decorativo, com a diferença que o medalhão recebe um busto feminino ou masculino.

            

    O eixo longitudinal apresenta elementos contracurvados preenchidos por engradado com um medalhão redondo com as iniciais de José Machado Pinto sobrepujado por putti brincando entre as folhas, enquanto os cantos do friso são preenchidos por cartelas assimétricas formadas por concheados com engradados nos pontos de ligação.

            

    Ligando os diversos elementos, grinaldas de bouquets de flores interligados por fitas.

    A qualidade da execução dos ornatos, a forma como a estrutura e a dimensão da sala é visualmente alterada pelo movimento do trabalho escultórico, dando a toda a composição um enorme dinamismo.

    Em relação ao desenho, composição de ornatos e execução existem enormes semelhanças com outras obras atribuídas a Grossi, nomeadamente na “Casa de Fresco” do Palácio da Vila de Sintra.

              

     

     

    Elementos azulejares

    Na decoração do salão, salienta-se ainda os silhares de azulejos colocados no decorrer da grande campanha de obras que a Câmara de Lisboa efetuou no edifício após a sua compra em 1948. São 6 painéis retirados do edifício nº27 da rua da Mouraria (o palácio do Saloio) demolido no início da década de 1959 no contexto do processo de abertura da praça do Martim Moniz. Datados do primeiro terço do século XVIII, apresentam uma figuração alusiva à história de Vénus, executados a partir de composições de Francesco Albani e difundidos através de gravuras francesas.

          

          

     

     

    Bibliografia

    MIRANDA, António - “Machadinho (Palácio do)” in Dicionário da História de Lisboa (dir. Francisco Santana e Eduardo Sucena). Lisboa: Carlos Quintas & Associados - Consultores, Lda., 1994, p.551-552.

    SILVA, Hélia - Giovanni Grossi e a evolução dos estuques decorativos no Portugal setecentista. Dissertação de mestrado em Arte, Património e Restauro. Lisboa: Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, exemplar policopiado, 2005.

    SILVA, Hélia - “Os Estuques do Salão Nobre do Palácio do Machadinho” in Rossio. Estudos de Lisboa, nº 0, outubro 2012, p. 88-97 (acesso em: https://www.lisboa.pt/atualidade/publicacoesperiodicas?tx_ameosfilemanager%5Baction%5D=info&tx_ameosfilemanager%5Bcontroller%5D=Explorer%5CFile&tx_ameosfilemanager%5Bfile%5D=589207&cHash=079251b38d1789baa48ad8d4ceb54490

    SILVA, Hélia e Lourenço, Tiago Borges – “Palácio do Machadinho – As múltiplas vidas de uma casa” in Cadernos do Arquivo Municipal, 2ª serie, nº5, janeiro-junho 2016, p. 129-171.

    acesso em:

    (http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/fotos/editor2/Cadernos/2serie/cad5/artigo04.pdf).

     

     

    Nota

    Fotografias – José Vicente, CML/ DMC/ DPC (2012)

    Coordenação – Hélder Carita

    Textos – Hélia Silva

     

    ttt
    PTCD/EAT-HAT/11229/2009

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