Casa à Rua Custódio Guimarães, 65
Enquadramento Historico e Paisagistico
Sobrado de inspiração neoclássica da segunda metade do século XIX localizado à rua Custódio Guimarães 65. Trata-se de imóvel integrante do Conjunto Paisagístico e Urbanístico tombado pelo IPHAN em 1958, na cidade de Vassouras/RJ e foi construído junto à Praça Barão de Campo Belo. É citado nas memórias afetivas da família Teixeira Leite escrita por Emilia la Roque, bisneta do Barão do Itambé, que relata os modos de vida de seus avós, o Tenente Francisco José Teixeira e Souza e Maria Gabriela Teixeira Leite, sexta filha dos Barões de Itambé.
Com base em escrituras antigas, na vista panorâmica de Victor Frond podemos saber que o sobrado à rua Custódio Guimarães 65 é anterior à 1851. O primeiro proprietário foi Francisco José Maria de Assis, que a vendeu mais tarde a Tenente Francisco José Teixeira e Souza, genro do Barão de Itambé.
Morfologia e Composição
Fachada Principal
O sentido de verticalidade conferido pelas portas do segundo pavimento, ou também do térreo, divididas no sentido vertical, pelas duas folhas de vidraça, é anulado, pela dupla horizontalidade do beiral ou da platibanda, e da sacada corrida.
A fachada apresenta alguns elementos de inovação: cimalhas de estuque muito fortes e decoradas, vãos com vergas em arco apontado, que apresentam seu nascimento marcados por cordão horizontal que circunda o prédio, e fingimento em embôço e reboco, de parâmetro em cantaria, revestindo todo o pavimento térreo, bem como os cunhais em sobrado (TELLES, 1968). O telhado de duas águas com cumieira paralela a rua, termina em beiral com cimalhas decoradas.
Apresenta esta casa, atualmente, assimetria no telhado - as duas tacaniças são diferentes em dimensões- e, por uma fotografia anterior a 1905, vemos que apresentava o telhado empena triangular na fachada lateral direita; o que nos permite admitir ter essa casa ficado com sua construção incompleta.
Fachadas Secundárias
As fachadas secundárias repetem este sentido de verticalidade, conferido pelas janelas em arco apontado presentes no segundo pavimento. A fachada voltada ao patio interno possui um eixo central que confere simetria à face no entanto o telhado repete a assimetria presente na fachada posterior. Este eixo coincide com o portal de acesso da area interior à este ambiente.
Programa Interior
O prédio assobradado conta com área total construída de cerca de 750,00m2, distribuídos igualmente nos seus dois pavimentos (térreo e sobrado), está implantada em um lote de cerca de 760,00 m2, com taxa de ocupação de aproximadamente 50% do mesmo.
O sobrado é residência de frente de rua, pavimento térreo, grandes salões e compartimentos para hóspedes; e, no sobrado, outros grandes salões que se abrem para a fachada, e salas íntimas e acomodações para a família que se abrem para os fundos.
Há repetição nos dois pavimentos-no térreo e no sobrado- de um partido comum às casas da época, descrito por Silva Telles: na frente, vestíbulo com escadaria, e grande salão; alcovas e quartos na área intermediária, e nos fundos, sala de jantar ou sala íntima, ligada às dependências de serviço.
Piso Térreo
Atualmente apresenta-se muito alterado no pavimento térreo, porquanto foram ligadas as alcovas, formando um corredor, e o salão da frente foi subdividido em três quartos.
Na reconstituição histórica realizada pelo Silva Telles, foi possível notar a presença de um grande salão frontal e uma parede que dividia o ambiente da escada e o hall de entrada. Esta escada pode ser vista na foto abaixo, em que o Centro Cultural Cazuza é Inaugurado por Lucinha Araújo no sobrado.
Piso 1
Apresenta partido repetido do pavimento térreo, apresentando dois salões de grandes dimensões; o da frente servindo de maneira mais social e o posterior com função de sala de jantar, e assim mais íntimo.
Devido às alterações na planta, isso viria explicar certas anomalias na planta, principalmente no sobrado, onde a escada termina justo em cima da porta de entrada da sala nobre da frente; e a única passagem existente entre esta sala nobre, e a sala de refeições, localizada nos fundos, é uma estreitíssima circulação, ao lado da mesma escada.
Bibliografia
TELLES, Augusto C. da Silva. Vassouras (estudo da construção residencial urbana). Revista do Patrimonio Histórico e Artístico Nacional v. 16, 1968.
LIVRO 1O DE CORRENTES DO PROCURADOR GERAL DA IRMANDADE DA CONCEIÇÃO - fls. 3 - a.i.n.s.c.v. fls. 37
LA ROCQUE, Emília G. de. Gente de Minha Vida: reminiscências de uma octogenária. Petrópolis, Ed. Vozes, 1977.
Documentação
Maria Gabriela Teixeira Leite Nascida em 28-9-1817, filha do Barão do Itambé, casou em 6-9-1844 em Conceição da Barra com seu primo Francisco José Teixeira e Souza, nascido em 1800, filho de Manoel Antonio Teixeira e Maria Esméria Cândida. Faleceu em 21-8-1883. Foi a sexta filha dos Barões do Itambé.
Nas memorias escritas de Emilia La Roque, bisneta de Maria Gabriela Teixeira Leite e Francisco José Teixeira e Souza, fala que; "Esse casal tem minha especial simpatia, A sua incontável descendência habitou-se a chamá-los carinhosamente de: vovó Lilia e vovô Tenente (embora ele tenha subido muito de posto) . Foram ambos muito belos; o que não sucedia aos barões de Itambé, bastante feios." Também conta que acredita que o casamento de todas as filhas do casal, foi realizado em Vassouras, no seu próprio palacete. Sendo o de Isabel e o de Lucilia efetuado no mesmo dia, segundo informações de Isabel Maria Villela de Andrade.
Cronologia
Proprietários
Francisco José Maria de Assis (1788 – 1853). Nascido em Barbacena, foi fazendeiro em Sacra Família, e transferiu-se para em 1849, onde tornou-se fazendeiro e agricultor de café. Tinha a patente de tenente. Faleceu a 2 de abril de 1853, e mereceu comovido obituário. (JORNAL DO COMMERCIO, 15 abril de 1853, p.4)
Francisco Jose Teixeira e Souza (1800 – 1871), filho de Manoel Teixeira e Maria Esméria Cândida, casou-se com Maria Gabriela Teixeira Leite (1817 – 1883) em 1844, em Conceição da Barra, Minas Gerais, sua prima, filha de Francisco José Teixeira e Francisca Bernardina Leite Ribeiro, futuros barões de Itambé. O casal teve sete filhos, e foram sogros do barão do Rio Preto. Teria adquirido a casa em 1849, onde realizaria o casamento de suas cinco filhas, sendo o de Isabel e o de Lucilia foi realizado no mesmo dia, segundo informações de Isabel Maria Villela de Andrade.
Com patete militar, alcançou o posto de major, e recebeu comenda de comendador. Capitalista e proprietário, atuou a partir de 1847 em Vassouras, junto às iniciativas da família Teixeira Leite tanto na política como frente à Santa Casa da Misericórdia. Foi Vereador e Juiz de Paz e subdelegado, foi um dos 200 maiores acionistas do Banco do Brasil. Faleceu a 12 de outubro de 1871, vítima de “curta moléstia”, conforme extensa nota publicado no Diário do Rio de Janeiro, no. 284, 14 out 1871.
Maria Gabriela Teixeira Leite (1817 – 1883), filha dos barões de Itambé, tornou-se proprietária da casa ao enviuvar de Francisco Jose Teixeira de Souza em 1871, quando a teria alugado para estabelecimento de ensino. Segundo relato de sua bisneta, o casal era chamado de vovó Lilia e vovô Tenente, Ao longo do século XX o imóvel teve seu uso original alterado de residencial para comercial, abrigando inclusive um colégio.
1845 - Data provável da da construção do prédio, segundo
1849 – Aquisição da casa por Francisco José Maria de Assis por 4.000,000 réis ( A.I.N.S.C.V).
1849 ??? Aquisição da casa por Francisco José Teixeira e Souza
1871 Com a morte do proprietário, sua viúva, Maria Gabriela, o aluga para sede de clubes e colégios.
1958- 26/06 O casarão foi inserido no Conjunto Paisagístico e Urbanístico da Cidade de Vassouras conforme processo n' 566 .-T-57, com inscrição n' 18, no Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico,
1959- Augusto Carlos da Silva Telles a aborda em seu estudos sobre as casas de Vassouras, quando realizar levantamento de sua planta e principais características arquitetônicas.
1978- A propriedade é doada à Prefeitura de Vassouras. l
1990- Inaugurada a Casa de Cultura Trancedo Neves, Prefeitura Municipal de Vassouras, mas apenas com seu pavimento térreo apto para uso. O prédio abriga acervo iconográfico, feira de artesanato, biblioteca e, em parte do pavimento térreo a SMC/PMV.
1997- Início de novas obras de recuperação do imóvel, “através de convénios firmados pela Prefeitura de Vassouras com o INEPAC, IPHAN, Fundação p/"ó-Memória e, por último com a Fundação Banco do Brasil, sendo este o convénio que possibilitou a contratação da última obra de porte no local, que contemplou a recuperação plena do pavimento sobrado e de todos os forros de madeira, demolição de intervenções irregulares e construção de anexo de serviço nos fundos da Casa, entre outros.”
1999- Re-Inauguração da CCPTN teve por finalidade promover, estimular e desenvolver ações culturais, assim como se responsabiliza pela Biblioteca Pública, colaborando com o desenvolvimento cultural e histórico do Município de Vassouras. A Casa recebia uma média anual de mais de 25.000 visitantes, distribuídos entre exposições e/ou eventos culturais. nas exposições de caráter permanente (incluído artesanato e visita ao prédio histórico) e também nos últimos anos como apoio logístico às produções culturais gratuitas realizadas na Praça Barão do Campo Belo, em especial os festivais de música
Desde a última intervenção em 1999 foram realizadas apenas intervenções pontuais no imóvel e atualmente o mesmo encontra-se degradado pela ação do tempo. desta forma a elaboração de projeto executivo de restauro e complementares visa reverter esse quadro atual possibilitando assim a recuperação das instalações prediais e estruturais. o restauro dos elementos. a instalação de novo sistema de prevenção e combate a incêndios. de alarmes/segurança (monitoramento) e a elaboração de um plano de relocação do mobiliário e acervo permanente no âmbito da intervenção. Todas essas ações serão realizadas no âmbito da intervenção Restauração do Casarão da Casa de Cultura aprovada pela Portaria lphan 383/201 3
Observações
Coordenação referente à Casa do Tenente Tenente Francisco José Teixeira de Souza: Ana Pessoa (FCRB), 2020
Texto: Ana Pessoa (FCRB) e Ornella Savini (Pibic/FCRB).
Edição de imagens: Ornella Savini (Pibic/FCRB)
Fotografias: IPHAN RJ, Carlos Terra, Katia de Souza