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    Figuras de Convite na Azulejaria

    Figuras de Convite na Azulejaria
    Portugal
    XVII,XVIII

    Apresentação

    Surgindo num contexto barroco de tendência para a acentuação dos aspectos rituais e cenográficos da vida quotidiana, as figuras de convite correspondem a um aspecto particularmente original da azulejaria portuguesa.  Concebidas em tamanho natural figurando escudeiros, alabardeiros, lacaios ou guerreiros. As figuras de convite revelam um sentido barroco de festa aos espaços onde foram colocadas, e a sua criação e experiências artísticas na decoração de alguns edifícios, marcam a memória do caracter efémero das festividades e todo o seu ritual.

    Génese e evolução: de P.M.P a Jorge Barradas

    A invenção das figuras de convite foi atribuída por Robert Smith ao misterioso pintor P.M.P artista conhecido pela sua transbordante criatividade e de excepcionais capacidades de adequação da azulejaria ao espaço arquitectónico.  A salientar que o pintor P.M.P., se destaca por ter sido um pintor original, isto é criador dos seus próprios desenhos e não um ”copiador” de estampas, como se tornou corrente na época da grande produção.

    Todavia, após a originalidade e liberdade do pintor P.M.P nas figuras de convite, partimos para a época da Grande Produção, ou seja, onde se verificou um certo rigor na concepção destas figuras. Destacam-se os nomes de Bartolomeu Antunes e Nicolau de Freitas (1703-1765), como pintores de azulejos de uma época de transição entre o “Período dos Mestres” e o “Período da Grande Produção”. O primeiro foi um auto didacta, que surge como pintor depois de largos anos como ladrilhador e empreiteiro. Todavia em 1745, uma filha sua, casa com Nicolau Freitas, pintor discípulo de António Oliveira Bernardes (1720 a 1724). Trabalharam provavelmente em parceria e tornaram-se os responsáveis de uma certa qualidade e inovação na própria produção. Não obstante, Robert Smith, distingue um período entre o “Período dos Mestres “e o “Período Rococó”, em que dominam especialmente os mestres, Bartolomeu Antunes, o seu genro Nicolau Freitas e Policarpo de Oliveira Bernardes, produzindo o que melhor se faz na época.

    Para finalizar destacamos o revivalismo das figuras de convite, criado pelo pintor, ilustrador e ceramista Jorge Barradas (1894-1971). Este magnífico artista, centrou predominantemente a sua actividade na cerâmica (c.1945), e verificou-se sobretudo nos painéis de azulejos, uma estilização da figuração barroca de seiscentos.

     

     

     

    Palácio dos Quevedo em Setúbal

          

    Neste edifício, que se pode designar de Antiga Confraria dos Homens do Mar de S. Pêro Gonçalves Telmo ou antigo Palácio dos Quevedos, vamos encontrar no pátio e na escadaria decoração azulejar com destaque para a figura de convite que aqui se verifica. Esta figura de convite é atribuída ao mestre P.M.P, e que se julga ser das primeiras surgidas entre nós, assim como as figuras de convite da Universidade de Évora.

     A figura de convite do Palácio dos Quevedos, assim como as quatro que vamos encontrar na Universidade de Coimbra, têm muitas semelhanças, pois verifica-se que vestem o mesmo tipo de traje e representam uma atitude discreta e elegante subserviência. A roupagem com que se apresentam revelam algum aparato, mas não apresentam características militares. Podemos referir que, a forma como se apresenta não pode ser representativo da grande nobreza, pois estes nunca se apresentam em público sem a sua arma, símbolo da sua condição militar e de suporte à monarquia.

    Nesta figura de convite do Palácio dos Quevedos, temos assim representado o porteiro da confraria com tricome na mão, inclinando-se com delicadeza a quem recebe, pintado sobre fundo branco e cercadura rectilínea. Estas figuras de convite que representam os “porteiros”, podemos indicar que se tratava de funcionários que tinham como função controlar as entradas e saídas dos espaços.  Desta forma, estas figuras de convite representam de facto uma categoria profissional da época.

     

    Arquitectura 

    Conforme indicado anteriormente, esta lindíssima figura de convite do mestre P.M.P, encontra-se no Palácio dos Quevedos. Salientamos desta forma o local e as características deste espaço arquitetónico. O Palácio dos Quevedos, situa-se na Praça de Quebedo 1, nº2 a 3, avenida 5 de Outubro, largo do Paço de Concelho em Setúbal.

    Encontra-se no centro histórico da cidade, adossado a um edifício de traçado semelhante, contiguo à Casa do Corpo Santo e integrados na antiga muralha medieval. Este palácio apresenta-se como uma casa com características maneirista e barroca. Salienta-se o estilo maneirista pelo formulário tendencialmente uniformizado, arquitectura singela, com frontispício de monumentalidade austera e fria. Evidencia-se uma preocupação modelar exterior, demonstrado na série de varandas de sacadas abertas na fachada principal do piso primitivo, acentuando a relação entre o edifício e a rua com grande sobriedade.

     

     

    Sala de actos no antigo Colégio do Espírito Santo em Évora

              

    Estas quatro figuras de convite da sala de actos no antigo Colégio do Espírito Santos, são figuras de convite que estão também atribuídas ao mestre P.M.P., e que tal como a figura de convite de Setúbal, pensa-se que terão sido as primeiras que surgiram neste âmbito.

    O mestre P.M.P foi um extraordinário pintor de azulejos que se pode identificar pela sua assinatura em monograma, mas a sua obra também é facilmente identificável pelo estilo do seu trabalho. Podemos referir que, o mestre P.M.P foi o criador das figuras de convite, estabelecendo tanto a sua integração espacial nas escadarias como a iconografia dos porteiros e alabardeiros trajando à moda da época.

    Através destas figuras de convite em Évora e nos outros casos  que aqui destacamos, evidencia-se  que estas são representada a uma escala natural (ou muito aproximada), e que o seu “objectivo” era o diálogo com o espectador, enfrentando-o com o olhar e a sua gestualidade falante, representando assim uma etiqueta e cerimonial da época em que se inserem. Vamos também verificar que através do traje e os seus adornos, nos permite esclarecer quem representam estas figuras de convite.

    Neste sentido, verificamos nestas figuras de convite de Évora e através da sua indumentária, que revelam algum aparato, mas não tem características militares, assim como não parecem representar a grande nobreza, pois esta nunca se apresentava em público sem arma, símbolo da sua condição de suporte militar da Monarquia.  Neste caso estas figuras de convite representam os “porteiros”, ou seja, figuras que tinham como função controlar as entradas e saídas das casas nobres.  A realçar que não estariam habitualmente vestidos com tanta pompa como se apresentam nos azulejos, só utilizavam estas roupagens em dias de festa.

     

    Arquitectura

    O Antigo Colégio do Espírito Santo situa-se na Rua do Cardeal Rei 6 7000-645 Évora.

    É um edifício de inspiração jesuíta e foi fundado no século XVI pelo arcebispo de Évora, o Cardeal D. Henrique. As obras de construção do edifício tiveram início em 1550, e terminaram em 1559, sendo o colégio inaugurado logo no mesmo ano. Posteriormente, em 1566, começava a edificação da Igreja, de invocação do Espírito Santo, concluída em 1572, e exemplar inaugural do chamado "estilo chão", promovido em tantas campanhas de obras da CompanhiadeJesus.
     O Antigo Colégio do Espírito Santo apresenta assim o estilo maneirista e barroco, com características também de arquitectura religiosa e educativa. Este antigo Colégio da Companhia de Jesus apresenta uma arquitectura rectangular irregular, com a igreja no lado esquerdo, com dependências colegiais e conventuais organizados em torno de quatro pátios rectangulares.

    No reinado de D. João V, as salas do colégio foram forradas com belíssimos azulejos barrocos representando as matérias aí ensinadas, com alegorias das Ciências ou Humanidades, retiradas de cartões holandeses. Este conjunto, juntamente com os quatro painéis azulejares de grandes dimensões que forram o cruzeiro octogonal que liga a ala Norte do claustro a uma outra, desenvolvida no sentido N-S, constitui o mais importante núcleo barroco de temática profana do Sul do país.

     

     

    Escadarias do Palácio dos Marqueses de Minas 

                  

    No Palácio dos Marqueses de Minas, verificamos que a escadaria surge como ponto fulcral do espaço da casa e de acolhimento dos visitantes. Nesta perspectiva a escadaria torna-se o local que estabelece a ligação entre o público - a cidade, e o privado - e o palácio, por esse facto a colocação das figuras de convite são tão precisas. 

    Nas escadarias dos Marqueses de Minas salienta-se uma figuração frontal para quem sobe o 1º lanço de escadas. Deparamo-nos assim com um casal, trajando à moda de c.1695-1700, numa função de figura de convite, ou seja, numa gestualidade que dá as boas-vindas ao visitante, “apesar do alarido do pequeno cão que os acompanha na sua representação”. Toda a figuração da cena é bastante cenográfica e repleta de vida.

     

     

    Arquitectura

    O Palácio dos Marqueses das Minas situa-se na Rua da Rosa, nº199, 1200-295 Lisboa.

    Este magnífico palácio foi construído na 2ª metade do século XVII, representa um exemplar da arquitectura civil residencial, barroca, ligado interiormente a um outro palácio da mesma época, ambos de planta rectangular irregular.

    A fachada principal encontra-se voltada para a Rua da Rosa, uma das principais artérias do Bairro Alto. Constitui um todo com o edifício que lhe fica à direita, que foi propriedade dos Leitão de Andrade. Embora ligados interiormente, contudo exteriormente os edifícios mantém a sua individualidade.

    No interior de ambos os edifícios a organização espacial é estabelecida em função do vestíbulo, rectangular e disposto transversalmente à fachada principal, a partir do qual se desenvolve as escadarias de lances rectos com patamares intermédios, acedendo aos vários pisos. No seu interior, nos vestíbulos, escadas e as várias salas, encontramos uma colecção de silhares de azulejos monocromos azuis e brancos, de composição figurativa, e barroca.

     

     

     

    Escadaria do Palácio Azurara/FRESS

              

     

    No Palácio Azurara as figuras de convite surgem-nos também na escadaria do palácio, contudo encontramos neste uma decoração mais complexa. Apercebemos-mos que a escadaria se prolonga por alguns degraus perpendiculares ao plano do arco triunfal, formando um patamar de planta quadrada, e a figura de convite é aí colocada numa posição de relevo em relação ao visitante que entra no átrio. Perto dessa figura de convite que se encontra enquadrada pelo arco, surge-nos uma segunda figura de convite, como numa multiplicação de figuras em cena que” acompanham com bastante zelo” os percursos de subida e descida dos visitantes, como se evidencia neste espaço aqui em relevo.

    Neste palácio, encontramos a representação de figuras de convite, que representam guerreiros romanos, e podemos salientar que estas figuras de convite seguiram o modelo dos primeiros guerreiros romanos encontrados em azulejos. Nestas figuras de convite vamos encontrar um efeito que também foi empregue nos alabardeiros do Tojal e de Lousa, e neste caso trata-se da utilização de pequenos apontamentos de amarelo a simular o ouro, e desta forma enriquecendo as indumentárias sobre a pintura azul e branca, características da azulejaria joanina. A salientar que, o simbolismo do ouro tem um significado áulico que sugere a presença da Corte e do Rei.

     

    Arquitectura

    O Palácio Azurara situa-se no Largo das Portas do Sol, n.º 2 1100-411 Lisboa.

    O Palácio é um exemplar da arquitectura portuguesa do século XVII, com várias intervenções posteriores no edifico. Este sumptuoso palácio foi habitado por várias famílias nobres, sofreu inúmeros danos com o terramoto de 1755, que depois de restaurado, foi habitado e pertenceu em finais do século XVIII ao visconde de Azurara, nome pelo qual ficou conhecido. Por fim, actualmente alberga o Museu - Escola de Artes Decorativas da Fundação Ricardo Espírito Santo.  Este edifico apresenta planta irregular composta, e abrange um troço da cerca moura bem como parte de uma das torres.

    O Palácio é organizado em quatro pisos, com ocupação desigual de áreas. O espaço interior testemunha as várias ocupações que teve o edifício, e as intervenções e transformações de que foi alvo ao longo dos séculos. Encontramos a fachada nobre, voltada para o Largo das Portas do Sol, onde se evidencia um pórtico grandioso, seiscentista encimado por frontão e volutas.

     

     

     

     

     

     

     

    Escadaria da Quinta de Santo Antão do Tojal

              

    As figuras de convite de Santo Antão do Tojal, são de uma qualidade ímpar, e verificamos uma vez mais que a escadaria é o ponto fulcral de toda a composição como espaço de teatralidade e cerimonial. O visitante que entra no edifício, depara-se com uma decoração na escadaria, que como que o envolve na atmosfera da festa barroca, proporcionando uma decoração em trompe d` loeil, em que se apresentam as figuras de convite (alabardeiros) desenhados em escala natural, com traje de grande aparato e atitude solene.

    As figuras dos alabardeiros de Santo Antão do Tojal na composição, levam o visitante a imaginar, a “sentir” a solenidade dos cerimoniais, da etiqueta na presença da Corte, e dos rituais. Esta composição ímpar de Santo Antão do Tojal leva o visitante a “sentir” as vivências da época e a viajar nos rituais da festa barroca.

    Tal como foi referido anteriormente, as figuras de convite de Santo Antão do Tojal representam alabardeiros, que trazem nas alabardas, de um lado, dois ramos de oliveira cruzados e, do outro, duas chaves cruzadas, contudo, não representam “gente da casa do Patriarca”.  Todavia, estes alabardeiros apresentam duas características ímpares, nunca antes vistas em figuras de convite, mas que se pode identificar no retrato de D. João V, pintado a azulejo.

    Essas características podem ser visualizadas nas imagens aqui em referência, e são as seguintes:  os tecidos estão minuciosamente desenhados, isto para que se destaque e se veja a qualidade e pormenor do lavrado, e a outra característica inovadora destas figuras, é que simulam ouro nos trajes, ou seja, verificamos pinceladas de amarelo nos tecidos, nos bordados das meias, nos galões dos chapéus, evidenciando trajes ricamente decorados a ouro.

     

    Arquitectura

    A quinta ou palácio de Santo Antão do Tojal, situa-se na Rua 1º de Maio, 2660-115 Santo Antão do Tojal.

    A referir que as primeiras referências sobre esta quinta surgem em documentação do século XIII, com a indicação de Quinta de Pêro Viegas. Não existem evidências, em que época se construíram a igreja e o palácio, mas surge informação de que em 1554 o espaço necessitava de obras, e que estas foram realizadas pelo então Bispo de Lisboa, D. Fernando de Menezes. Contudo, a importante e grande intervenção que transformou esta propriedade rural em quinta de recreio, foi em 1730, e através da iniciativa do 1º patriarca de Lisboa de D.Tomás de Almeida, e à qual se encontrava ligado ao importante nome, o arquitecto  italiano Antonio Canevari. A intervenção de Santo Antão do Tojal é considerada uma das suas obras mais significativas.

    Relativamente ao edifício encontramos no primitivo palácio planta em L, ao qual foi acrescentado um corpo, que formava um U, fechado por um muro alto, onde se abre o imponente portão coroado pelas armas dos Almeidas. No seu interior, as salas do piso nobre são revestidas por painéis de azulejo, com temática variada. No entanto, é nos painéis das escadarias, onde se destacam  a presença das figuras de convite.

     

     

     

     

    Escadarias da Casa Nobre ao Bairro Alto

              

     

    Nos exemplos que já enumeramos de figuras de convite em vários edifícios, verificamos que podem ter várias funções e designações  Neste caso, apresentamos na casa nobre ao Bairro Alto, na rua de São Boaventura, outras figuras de convite, que pela forma que se apresentam se designam de escudeiros. Neste sentido convém esclarecer porquê da designação de escudeiro. A salientar que existiam as funções de “cavaleiros que prestam serviços mais de escada acima”, e neste sentido eram lhe atribuídos a designação de escudeiros.  Os escudeiros eram um tipo de criados em que tinham como função o cerimonial da entrada na casa, que acontecia sobretudo no espaço da escada e da entrada.

    Na casa nobre ao Bairro Alto surgem assim as figuras de convite que representam os criados ou escudeiros que dialogam com o visitante. Encontramos assim cinco escudeiros, um situa-se no patim da escada, e os outros quatro, escada acima, cada um num patim da escada, recebendo e guiando quem entra.

     

    Arquitectura

    A Casa Nobre de São Boa ventura, situa-se em Rua de São Boaventura, n.º 111 em Lisboa.

    Este Palacete urbano pombalino ou casa nobre, apresenta uma arquitectura residencial e revivalista. Tem uma planta em U, estruturada em torno de pátio murado, com fachada de dois pisos, separados por friso, terminadas em cornija, e mansarda, com cunhais apilastrados e vãos rectilíneos de moldura com pequeno recorte superior. No interior vamos encontrar um vestíbulo central rectangular, a partir do qual partem corredores laterais de distribuição e, frontalmente, escadas de acesso ao andar nobre.

     

     

     

    Pátio de recebimento da Quinta dos Marqueses de Alegrete

                  

    Partimos para outro exemplo, onde encontramos outras figuras de convite, demonstrando a importância dos rituais e cerimoniais destes espaços Nobres. Todavia, vamos encontrá-las não no interior do espaço da Casa Nobre, mas sim no exterior, mais propriamente no pátio. Neste caso, falamos da Quinta dos Marqueses de Alegrete, onde a entrada se faz através de um sumptuoso portão aberto no muro, que dá acesso a um pátio fechado pelas fachadas da casa e das dependências da quinta.

    O pátio funciona como um vestíbulo, e trata-se da zona de recebimento e acolhimento dos visitantes antes de estes passarem às zonas dos jardins e fachada principal da casa. Este edifício que aqui realçamos, enquadra-se numa tipologia de “quinta de recreio”, concebida para uma grande família da Corte, com espaços dedicados à Recepção, jardins, matas e zonas para exploração agrícola.

    No pátio-vestíbulo, o programa iconográfico de azulejos que o decoram, procura marcar este espaço, dando-lhe o sentido de entrada e Recepção. Neste pátio encontramos cinco figuras de convite que representam cinco cavalheiros, que estão dispostos pelo muro, e nos quais verificamos a exibição de uma indumentária joanina, ou seja, traje de aparato com todos os acessórios, como cabeleireira e tricorne na cabeça ou debaixo do braço, complementados com espadim, ou bengala ou bastão.

    As figuras de convite da Quinta dos Marqueses de Alegrete, marcam com a sua gestualidade, a amabilidade e o convite, ao visitante. A realçar que a decoração com figuras de convite em espaço aberto é rara, estas surgem como temos aqui exemplificado, mais nas escadarias das Casas Nobres, pelo facto do espaço ter um maior formalismo e criar maior impacto, contudo, numa quinta de recreio, compreende-se a importância de um vestíbulo ao ar livre, pelo intimismo que existia no jardim português tradicional.

     

    Arquitectura

    O Palácio dos Marqueses de Alegrete apresenta-se com uma tipologia de casa de “pátio de recebimento”. Mais corrente no século XVI e XVII esta tipologia caracteriza-se por apresentar uma fachada secundária sobre a rua e o exterior, recolhendo-se a fachada de entrada sobre um pátio lateral rodeado por altos muros. Funcionando como espaço de transição entre interior e exterior, este espaço assumia particular importância no programa arquitectónico sendo marcado pela presença de um conjunto de figuras de convite.  

     

     

     

     

    Escadarias do Palácio Barbacena

              

    O Palácio Barbacena, em Lisboa, foi contruído perante um projecto bastante erudito, em que o desenho da escadaria também é largamente tratado e pormenorizado, e que não prescindiu de decoração a azulejos e a presença de figuras de convite.

    Nele surge-nos assim, uma figura de convite com traje joanino, representada com uma indumentária bastante cuidada, com cabeleira caída, tricorne sob o braço e bengala, e numa gestualidade bastante amável e delicada, convida a subir. No entanto, todo este cerimonial continua para o visitante que sobe a escada, e no patamar superior, surge outra figura de convite, ou seja, um criado, de tricorne emplumado na mão, no qual recebe com cuidado o visitante, que o conduz até ao final do percurso de ascensão à zona nobre da casa.

     

    Arquitectura

    O Palácio Barbacena situa-se em Alfama, Campo de Santa Clara 133, 1170-385 Lisboa.

    Trata-se de um palácio setecentista e com uma arquitectura residencial e barroca. Este edifício organiza-se em 4 pisos, sendo o último de construção mais recente. A fachada principal é constituída por um corpo central, portal, andar nobre de duas janelas de varandas e quatro de peito, e o andar superior de sete janelas, e por corpos laterias, resgados cada um por uma janela por piso.

    O vestíbulo de entrada é bastante amplo e encontra-se revestido por silhares de azulejo com cenas de género e paisagem, enquadradas entre cercaduras com pilastras em trompe - l'oeil e anjos atlantes, temas que se desenvolvem pela escadaria e salões nobres. Contudo iremos salientar o conjunto de azulejos que se encontram na escadaria, com as figuras de convite.

     

     

     

     

    Palácio dos Guiões

              

    No Palácio Guiões deparamo-nos com outras Figuras de Convite, e estas evidenciam novos modelos de guerreiros, já não com os mesmos padrões do gosto barroco, mas sim num gosto e estética rococó. Verificamos que estas figuras de convite, já não apresentam todo o sentido de pompa e de gravidade, que encontrámos e verificámos nas figuras de convite que retratámos anteriormente.

    Estas figuras de convite, são figuras de atitudes efeminadas, e com gestos amolecidos, características que se apresentam sobretudo nos guerreiros romanos, contudo, a figura do Janízaro, apresenta-se como uma personagem assustadora. Existem mudanças evidentes no gosto e concepção destas figuras, onde se verifica que o azul e branco com que os guerreiros são pintados é muito distinto do azul e branco joanino. Nestas, utilizam-se azuis muito mais claros e transparentes, tons muito mais próximos do gosto rococó.

     

    Arquitectura

    O Palácio de Guiões situa-se na Rua de São Filipe Neri, nº 78-80, Lisboa.

    O Palácio de Guiões apresenta uma arquitectura residencial. Este sumptuoso palácio apresenta planta em T, composta pela articulação de três corpos em redor de um pátio rectangular, parcialmente, descoberto. Edifício com quatro pisos assinalados pela abertura de vãos com emolduramento simples de cantaria, a ritmo irregular. O interior é marcado por uma intensa compartimentação, distribuída ao longo dos vários alçados, à qual se acede por meio de extensos e labirínticos corredores articulados com duas escadarias a N.  e a S., que possibilitam a circulação entre todos os pisos.

     

     

     

    Título

                  

     

    TextoImagem

     

    Palácio São Clemente, Rio de Janeiro 

        

    Para finalizar, destacamos estas duas figuras de convite, concebidas pelo pintor e ceramista Jorge Barradas (1894-1971), que evidencia um revivalismo das figuras de convite, na decoração dos espaços interiores como elementos de Recepção e Cerimonial. Coube ao pintor, ilustrador e ceramista modernista Jorge Barradas a elaboração das principais peças deste projecto do Palácio Clemente, como os painéis do hall de entrada e a fonte que decora o pátio central. Os painéis de azulejaria do Palácio de São Clemente foram pintados à mão na Fábrica Viúva Lamego, fundada em 1849 e que actualmente está instalada na Abrunheira, em Sintra.

    Realçamos assim, estas duas figuras que se encontram no hall de entrada do palácio. De cada um dos lados da porta destaca-se um trabalho de azulejaria, onde surgem como anfitriões as figuras de um homem e de uma mulher, que aqui se destacam.  Realçando uma vez mais, a importância destas figuras como representação de um cerimonial e de “bem-receber”.

    Verificamos nelas, o traço e as características artísticas do pintor e ceramista Jorge Barradas, que centrou predominantemente a sua actividade na cerâmica (c.1945), e em que se verifica sobretudo nos painéis de azulejos, uma estilização da figuração barroca de seiscentos.

     

    Arquitectura

    O Palácio de São Clemente localiza-se na Rua de São Clemente, no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro.

    O Palácio foi construído na década de 1950, como sede da Embaixada de Portugal no Brasil e abrange uma área total de 5.800 m2. Com a mudança da capital para Brasília, a propriedade passou a ser residência oficial do Cônsul-geral no Rio de Janeiro. O projecto do Palácio São Clemente coube aos arquitectos e irmãos portugueses Guilherme e Carlos Rebello de Andrade, e teve a sua construção entre 1956 e 1961. O material para os acabamentos e decoração foram importados de Portugal, no âmbito de reproduzir um legitimo palácio barroco do século XVIII.

     

     

     

    Bibliografia

    ARRUDA, Luisa, Figuras de Convite, Azulejaria Barroca Portuguesa, Lisboa, 1993.

    MECO, José, A Azulejaria barroca e a Invenção do Espaço, Lisboa, 2009, p.130.

    MECO, José, Azulejaria Portuguesa, Lisboa, Bertrand editora, 1985.

    SIMÕES, João Miguel dos Santos, Azulejaria em Portugal no século. XVIII, Lisboa; Fundação C. Gulbenkian, 1979.

     

     

    Nota

    Coordenação: Hélder Carita

    Textos: Bolseira Magda Salvador; Orientação de Hélder Carita

    Fotografias: atelier Hélder Carita

    Inserção dos textos e imagens: Bolseira Magda Salvador

     

     

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    PTCD/EAT-HAT/11229/2009

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